‘Peter Pan’ foi trabalho pioneiro em psicologia infantil, diz estudo
Pesquisa da Universidade de Cambridge afirma que o escritor J.M. Barrie identifica as principais etapas do desenvolvimento de crianças em seu trabalho
Peter Pan pode parecer uma simples e inocente história sobre um garoto que nunca cresce, mas um novo estudo da Universidade de Cambridge afirma que os contos criados por J. M. Barrie (1860-1937) tiveram papel fundamental no desenvolvimento da psicologia infantil. No recém-publicado livro Peter Pan and the Mind of J.M. Barrie, a neurocientista Rosalind Ridley, da Newnham College, em Cambridge, afirma que o escritor identifica as principais etapas do desenvolvimento de crianças. As informações são do site do jornal The Guardian.
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A pesquisadora cita como exemplo uma cena de Peter Pan em Kensington Gardens, publicado originalmente em 1906, em que uma garota, chorando, entrega a Peter seu lenço, ao que ele fica confuso. “Então ela mostra a ele como se faz, secando os próprios olhos e entrega o lenço de volta a ele, dizendo: ‘Agora é a sua vez’, mas em vez de secar seus olhos, ele seca os dela. Ela então pensa que seria melhor fingir que era isso mesmo o que ela queria dizer”, escreve Barrie.
De acordo com a pesquisadora, nessa passagem Barrie ilustra sua compreensão de uma fase fundamental no desenvolvimento de crianças: ter uma “teoria da mente”, ou habilidade de entender que o conhecimento, as crenças e os sentimentos de alguém podem não ser os mesmos de outras pessoas. Isso é aprendido naturalmente pela maioria das crianças entre os 3 e 4 anos de idade, mas o termo não é usado antes dos anos 1970, décadas depois da publicação do livro de Barrie.
O estudo também afirma que o escritor já colocava, em seus livros, alguns traços de psicologia cognitiva – os processos que estão por trás do comportamento das pessoas – mesmo antes de pesquisadores dessa área mesmo escreverem sobre o assunto. “Em alguns casos, sua observação do comportamento humano e animal precede a análise desse comportamento pela comunidade científica”, diz Rosalind em seu livro.
A pesquisadora também afirma que a história de um garoto que nunca cresce está relacionada com a infância do autor, cujo irmão mais velho morreu em um acidente quando criança. “Muito de Peter Pan tenta redesenhar sua infância. Ele está motivado tanto pessoalmente quanto cientificamente para criar as histórias. Naquela época, pensava-se que as crianças eram pequenas pessoas sem conhecimento e tudo o que você devia fazer era educá-las. Barrie tenta dizer em seu trabalho que as crianças, na verdade, estão mais próximas de animais”, diz ela ao site do Guardian.