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Acusado de homofobia, curador do Jabuti pede demissão

Luiz Armando Bagolin não resistiu à polêmica provocada por um comentário em que ironiza a relação homeafetiva de um crítico às mudanças no prêmio

Por Redação
Atualizado em 15 jun 2018, 17h15 - Publicado em 15 jun 2018, 14h24
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  • O professor da USP Luiz Armando Bagolin não resistiu à repercussão negativa de uma mensagem enviada a um dos críticos das mudanças promovidas por ele no Prêmio Jabuti, uma das mais prestigiosas distinções literárias do país. Ao comentar em uma das colunas que o especialista em literatura infantil Volnei Cônica assina para o site PublishNews, ele ironizou a posição de Volnei, dizendo que ele defendia “principalmente” o companheiro, o ilustrador Roger Mello, vencedor do Prêmio Hans Christian Andersen em 2014, “seu amor”, porque era Dia dos Namorados, e mandou beijos para ambos. A mensagem viralizou no meio literário e foi considerada por muitos, nas redes sociais, homofóbica.

    Volnei e Roger, assim como muitos outros personagens do mercado literário, vinham questionando as mudanças executadas por Bagolin no Jabuti. Para dinamizar a cerimônia de entrega do prêmio, marcada para 8 de novembro, o agora ex-curador reduziu de 29 para dezoito as categorias da premiação e eliminou o segundo e o terceiro lugares de cada categoria. Também ampliou o valor dos prêmios. O vencedor de uma categoria levará para casa 5.000 reais e o ganhador do livro do ano, 100.000 reais.

    A forma encontrada de reduzir o número de categorias foi suprimir e fundir algumas — ele eliminou a de livro-reportagem e uniu a infantil e a juvenil, por exemplo. Também deslocou a categoria de ilustração para área técnica da premiação. Volnei vinha criticando essas decisões em sua coluna.

    A reportagem de VEJA tenta desde esta quinta-feira falar com Bagolin, sem sucesso. A demissão foi pedida pelo professor em carta enviada à Câmara Brasileira do Livro (CBL), que confirma seu desligamento. No texto, Bagolin se queixa de não ter “liberdade de pensamento” e “autonomia”.

    Na carta, sem citar nomes, o professor se dirige a Volnei e Roger. “O Prêmio Jabuti, ao longo de 6 décadas, foi ofertado pelo mercado editorial brasileiro para os profissionais do mercado editorial brasileiro. Alguns desses profissionais se acostumaram a estabelecer e a ditar as regras do jogo a fim de atender os seus próprios interesses”, diz em um trecho.

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    Em outro, menciona o Livro dos Mortos egípcio, que Roger tem usado para mostrar que a ilustração acompanha a literatura desde sempre. “Não posso, como professor, deixar de corrigir alguém que afirma a existência do Livro dos Mortos como exemplo de um ‘livro ilustrado’, ‘um dos mais antigos da humanidade’, ou qualquer coisa neste sentido. O Livro dos Mortos, egípcio, é uma invenção de um arqueólogo alemão do século XIX. O conceito ‘ilustração’ também data deste século.”

    Confira abaixo nota da CBL e a carta de Bagolin:

     

    Comunicado da CBL

    “A Câmara Brasileira do Livro comunica que recebeu nesta sexta-feira, 15 de junho, uma carta do professor Luiz Armando Bagolin em que ele pede afastamento, em caráter irrevogável, da curadoria do Prêmio Jabuti. Bagolin renunciou ao cargo de curador com o intuito de evitar prejuízo ao Prêmio e à CBL, depois que um debate na internet sobre críticas à premiação tomou direção de natureza pessoal. A CBL reconhece e agradece a ele pelo excelente trabalho desenvolvido desde 2017 em prol da premiação, que chega neste ano à sua 60ª edição.”

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    Carta de Luiz Armando Bagolin

    “Toda mudança gera desconforto, e todo desconforto gera medo!

    As mudanças que propusemos para o Prêmio Jabuti este ano têm gerado muita insatisfação dentro de grupos de autores e editores que antes eram acolhidos em nichos específicos para as suas respectivas áreas de atuação e para as suas produções. O Prêmio Jabuti, ao longo de 6 décadas, foi ofertado pelo mercado editorial brasileiro para os profissionais do mercado editorial brasileiro. Alguns desses profissionais se acostumaram a estabelecer e a ditar as regras do jogo a fim de atender os seus próprios interesses. Acho isto um erro! O principal foco das mudanças propostas, neste ano, foi apresentar um novo formato de prêmio, mais enxuto, mais racional, sem atender as especificidades de cada setor, de cada gênero e subgênero, porque nenhum prêmio do mundo consegue sobreviver e ter relevância desse modo, por mais justo que seja lutar pelo específico e pelo amiúde naquilo que se faz cotidianamente em cada área do universo editorial. O foco, doravante seria o leitor! Aquele que é considerado o Nobel da literatura infantil, o Prêmio Hans Christian Andersen, que existe desde 1956, tem duas categorias apenas: ‘Melhor autor em literatura infantil e juvenil’ (reparem, as duas juntas) e “ilustração infantil”. Não há que eu saiba atualmente nenhum manifesto ou mobilização de nossos autores, ilustradores e editores para que haja uma mudança no Hans Christian Andersen. Ao contrário deste prêmio, contudo, o Jabuti não é voltado exclusivamente seja à literatura infantil, seja à juvenil, seja à ilustração infantil. O novo prêmio Jabuti passou por diversas comissões internas da CBL, nas quais têm assento algumas das principais editoras de nosso país, além de entidades congêneres como a FNLIJ, braço do IBBY no Brasil (a organização que oferece o Hans Christian Andersen). NADA foi construído sozinho ou sem o consenso da maioria em todas essas comissões. Uma das manifestações contra o novo formato do prêmio foi publicada na forma de um artigo no último dia 11 de junho. Discordo das posições ali apresentadas, pois embora revele ter conhecimento das especificidades de cada gênero, do que é literatura infantil, do que é a juvenil (como se na CBL já não soubéssemos dessas diferenças) demonstra a mais completa ignorância de como é feito um Prêmio Jabuti, além de outras informações históricas incorretas. Não posso, como professor, deixar de corrigir alguém que afirma a existência do ‘Livro dos Mortos’, como exemplo de um “livro ilustrado”, “um dos mais antigos da humanidade”, ou qualquer coisa neste sentido. O ‘Livro dos Mortos’, egípcio, é uma invenção de um arqueólogo alemão do século 19. O conceito ‘ilustração’ também data deste século. Num mundo de muitas redes sociais, mas de pouca leitura, as pessoas compram facilmente o que corre nas redes por falsos especialistas. Mas o que realmente importa em minha divergência é alertar para o fato de que há indivíduos que estão agindo contra o novo projeto apenas para defender interesses pessoais e comerciais e não pela possibilidade de prestar uma colaboração desinteressada ao Prêmio Jabuti. Não tive condão de ofender! Penso, entretanto, que as discussões tomaram uma direção de natureza muito pessoal, infelizmente e injustamente, por ambas as partes, e o livre debate de opiniões ficou distorcido e prejudicado! Tenho sido insultado nas redes sociais por muitas pessoas que, ingenuamente, estão sendo manipuladas por poucos indivíduos. Não admitem ofensa, mas são rápidas e eficientes em multiplicar a infâmia. São “politicamente corretas” ao se defender, mas se esquecem de toda cordialidade e gentileza, com a qual desejam ser tratadas, quando querem atacar! Não é possível debater nestas condições. Portanto, para que não haja nenhum dano ao Jabuti ou à Câmara Brasileira do Livro, apresento aqui, e em caráter irrevogável, a minha renúncia à curadoria do Prêmio Jabuti de 2018. Não é possível prosseguir, sem liberdade de pensamento e sem autonomia de condução dos princípios que foram desenhados para sustentar o novo projeto. Quero agradecer a confiança e o apoio que me foram dados pela Diretoria da CBL, pelo Conselho e pela Organização do Prêmio Jabuti, durante todo este período, e desejo toda sorte e sucesso para o Jabuti. Como disse Guimarães Rosa, “A vida é assim, esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.

    Com gratidão,

    Luiz Armando Bagolin”

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