
A Flip das Flips. Foi assim que o curador da 12ª Festa Literária de Paraty (Flip), Paulo Werneck, resumiu a edição que homenageou Millôr Fernandes. “Essa é a Flip das Flips, se a gente pudesse usar uma expressão parodiando a que a Dilma usou para falar sobre a Copa. Com a diferença que a gente saiu ganhando”, disse Werneck na coletiva de imprensa, neste domingo. Contudo, apesar de não ter perdido de goleada, como a seleção canarinho, há certo exagero na frase do curador do evento.
Entre os “gols” marcados pela Flip está a tentativa de maior aproximação com o público, pelo menos no que diz respeito ao acesso das mesas. Este ano, o show de abertura com a cantora Gal Costa, foi gratuito, assim como os dois telões que substituíram a Tenda do Telão, espaço que em 2013 cobrava 12 reais para quem quisesse acompanhar as mesas ali. Um dos telões da edição 2014, bem ao lado da tenda, era mais confortável. O outro, ao lado da Igreja da Matriz, no Centro Histórico, só era viável à noite. Durante o dia, era impossível aguentar o sol. Ainda assim, os números divulgados pela organização mostraram que os dois telões tiveram um público de 10.060 pessoas até a mesa 15 (foram 20 ao todo), contra as 10.415 que pagaram para assistir as mesas na Tenda do Telão durante toda a programação do ano passado.
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A Tenda dos Autores também sofreu modificações e ganhou uma estrutura mais enxuta. Apesar de comportar o mesmo público (850 pessoas), dava a impressão de ser menor e com um calor por vezes difícil de suportar. O veterano autor português Almeida Faria, que dividiu a mesa com outro veterano, o chileno Jorge Edwards, chegou a agradecer o público por aguentar “essa estufa” para ouvi-los. Segundo balanço da organização, até a mesa 14 o público foi de 12.069 pessoas. Em 2013, até a mesma mesa, o número tinha sido 9.482, uma alta de 27%.
O crescimento do público mostra que as pessoas se mostraram abertas à programação mais eclética, com temas variados, que foram da questão indígena à presença de um guru da alimentação, passando por espionagem, exemplos de superação e as relações do jornalismo com o poder. No entanto, as mesas propriamente literárias ficaram devendo.
Surpreendentemente, o ponto alto, não só das mesas literárias, como de toda a programação, foi a mesa com a atriz Fernanda Torres, ao lado do peruano Daniel Alarcón. Fernanda, que lançou Fim (Companhia das Letras) no ano passado, fez a plateia se divertir. Ela conseguiu uma conexão com o público que foi difícil ver em outras mesas, comparável apenas ao cartunista Jaguar, presente na abertura.
Claro que Fernanda é atriz, comediante e tem essa facilidade no contato com o público, porém falta nas mesas uma moderação que saia do tom monocórdio e das perguntas acadêmicas para que a plateia, além de se informar e conhecer os autores, possa também se sentir envolvida, ainda que a mesa trate de um tema sério.
Para o próximo ano, ainda não há informações sobre como será a edição. Nos próximos dois meses, deve ser anunciado se Paulo Werneck segue como curador. Junto, saberemos quem será o homenageado.