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A psicóloga e pesquisadora Ilana Pinsky reflete sobre saúde mental e suas conexões com a nossa sociedade
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Principal consultor médico dos EUA emite novo alerta sobre redes sociais

Profissional referência nas discussões sobre saúde defende rótulo de advertência nas mídias sociais para preservar bem-estar mental da juventude

Por Ilana Pinsky*
Atualizado em 18 jun 2024, 22h27 - Publicado em 18 jun 2024, 16h54

A figura do Surgeon General dos Estados Unidos representa uma espécie de médico-chefe do país, uma bússola para recomendações na área da saúde. E o atual ocupante do cargo, Vivek Murthy, se preocupa há anos com o impacto das redes sociais no equilíbrio mental de crianças e adolescentes.

Em maio de 2023, Murthy divulgou um comunicado sugerindo que as redes sociais possivelmente não eram seguras para a saúde mental dos mais jovens e alertando que o uso dessas plataformas apresentava “um risco profundo de dano” para a nova geração. O anúncio estava embasado em uma série de evidências científicas, embora esse campo de estudos ainda esteja em desenvolvimento.

Agora, o Surgeon General deu um passo além. Em um movimento amplamente divulgado nos EUA, ele propõe o uso de um rótulo de advertência com seu selo nas plataformas de redes sociais. A proposta, que segue um modelo semelhante ao usado para reduzir o consumo de tabaco, visa alterar o comportamento em relação ao uso de Instagram, TikTok e companhia, informando às famílias que o médico-chefe do país considera prejudicial a exposição dos filhos a essas mídias.

A proposta do rótulo seria uma medida inicial de combate aos danos impostos pelo consumo desenfreado de conteúdo digital e pela hiperconexão mantida pelos aplicativos. Murthy não acredita ser justo (nem eficaz) que toda a responsabilidade recaia sobre as famílias.

Ele apoia que ações sejam tomadas pelos formuladores de políticas e pelas empresas responsáveis por essas tecnologias – elas deveriam, por exemplo, ser mais transparentes e compartilhar seus dados com o público e pesquisadores independentes.

Há razões para nos preocuparmos com a saúde mental dos nossos adolescentes, particularmente as meninas. Pesquisas recentes mostram um aumento preocupante nos comportamentos de autoagressão e propensão ao suicídio entre crianças e adolescentes nos EUA, na Europa e no Brasil.

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Em solo americano, visitas hospitalares por tentativas de suicídio em jovens aumentaram 31% entre 2019 e 2021. Na Europa, internações por tentativas de suicídio cresceram em países como Reino Unido e França. No Brasil, entre 2011 e 2022, houve um aumento anual de 6% na taxa de suicídio entre jovens, enquanto as notificações de autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos cresceram 29% ao ano durante o mesmo período.

Embora a pandemia de Covid-19 pareça ter deixado um legado negativo, a tendência de piora começou bem antes disso. A psicóloga Jean Twenge, professora da San Diego State University, conduziu uma extensa pesquisa que revelou um declínio significativo na saúde mental de crianças e adolescentes a partir de 2012, período que coincide com a ampla adoção de smartphones e redes sociais.

Os estudos de Twenge sugerem uma forte correlação entre o aumento do uso de celulares e aplicativos e as taxas crescentes de depressão, ansiedade e solidão entre os jovens desde então. Quanto maior o uso, piores os resultados.

As mídias sociais são construídas para estimular uma exposição crescente a seus conteúdos, gerando dependência, sentimentos de isolamento, redução na qualidade do sono e piora na autoestima e autoimagem dos jovens.

Jonathan Haidt é outro psicólogo amplamente conhecido por suas pesquisas sobre os efeitos nocivos das redes sociais na saúde mental dos adolescentes. Professor da Universidade de Nova York e autor do best-seller A Geração Ansiosa (Companhia das Letras), ele destaca que essas mídias intensificam a comparação social e a ideia de inadequação entre os mais jovens, que contrastam sua vida “comum” com a exuberância irreal das experiências divulgadas nas redes.

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Os problemas vão além disso. Haidt aponta o impacto da comunicação digital no desenvolvimento de habilidades sociais e nos relacionamentos pessoais diretos, evidenciando os riscos relacionados à diminuição da interação presencial e ao aumento da dependência das interações digitais.

Os sinais de alerta estão claros. E há muitas possibilidades de ação e intervenção. Quer um exemplo? No Brasil, um grupo de pais e mães, apoiados por profissionais da saúde, lançou um movimento para promover “redução, controle e adiamento do acesso a smartphones e redes sociais” por crianças e adolescentes.

O Movimento Desconecta se inspira nas recomendações de Haidt e outros especialistas, propondo medidas para pais, escolas e legisladores. As principais iniciativas incluem restringir o acesso a smartphones até o ensino médio, evitar o uso de mídias sociais até os 16 anos e estabelecer escolas como ambientes livres de celulares. 

* Ilana Pinsky é psicóloga clínica e pesquisadora da Fiocruz. É autora de Saúde Emocional: Como Não Pirar em Tempos Instáveis (Contexto), foi consultora da OMS e professora da Universidade Colúmbia e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

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