Um bom sinal vindo do Superior Tribunal Militar e das Forças Armadas
Será muito bom se isso continuar...
Não acreditava que fosse viver para ver um elogio feito por um presidente do Superior Tribunal Militar ao meu trabalho numa entrevista para a minha mãe, Miriam Leitão.
A vida, contudo, também é boa por isso. Por essa capacidade de nos surpreender e de permitir que o passar dos dias nos mostre o desenrolar da História.
Como filho de torturados da ditadura e autor do livro Em Nome dos Pais, aguardo um pedido de desculpas das Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica.
Mas no programa da Globonews o que eu ouvi foi o presidente do STM elogiar minha pesquisa, dizendo que mais jornalistas deveriam ir à Justiça Militar fazer o mesmo: “De 1914 a 1989, tudo, absolutamente tudo, o que temos no Tribunal está aberto aos nossos historiadores, aos nossos acadêmicos, para aqueles interessados”.
Essa abertura eu experimentei quando fui fazer meu livro. Agradeci publicamente a Corte, há seis anos.
Agora, quando digo que espero o pedido de desculpas, não é no sentido de impor alguma humilhação aos militares, ou a essas importantes instituições que são as Forças Armadas, mas porque é assim que se reconstrói um país que passou para um regime de exceção.
Sem ele, repetiremos outras vezes esse horror de rasgar acordos internacionais, valores universais e princípios civilizatórios, como vimos ocorrer recentemente, nesses últimos quatro anos.
Fazer chacota de uma mulher grávida, que, aos 19 anos, foi barbaramente torturada é coisa de gente perversa e desconectada de todos os valores humanos. Lembro que isso foi feito pelo então presidente da República Jair Bolsonaro e pelo filho dele, o deputado federal Eduardo Bolsonaro.
Obrigado, brigadeiro Joseli Camelo, pelas palavras sobre o meu livro, meu trabalho como repórter e filho.
Vejo avanços na sua postura. Iniciativas como essa mostram uma face moderna das Forças Armadas, que quer a pacificação nacional e a profissionalização.
Como país, brigadeiro, o Brasil perdeu a chance de punir os seus torturadores. Mas ainda há tempo para esse pedido de desculpas.
É preciso ter força para dizer “eu errei”, ou “me perdoa”, expondo nossas piores faces. Como militar com uma longa carreira, o senhor sabe disso.
Não falo por outros parentes daqueles que tiveram seus direitos mais elementares violados entre 1964 e 1985, inclusive em quartéis do Exército. Mas eu, Matheus Leitão Netto, preciso desse pedido de desculpas por dois motivos: abraçar meus pais, Marcelo e Miriam, sob uma nova realidade e, um dia, quem sabe, acreditar que meus filhos, Mariana e Daniel, viverão em um país no qual essas coisas jamais se repetirão.
PS – O senhor pode ser essencial nisto. Fica aqui a minha tréplica, com mais um agradecimento ao Superior Tribunal Militar.