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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

Por que o mercado financeiro faria Braga Netto presidente

Em artigo enviado à coluna, Rodrigo Vicente Silva analisa pesquisa acerca da opinião do mercado sobre governo, lideranças políticas e eleições futuras

Por Rodrigo Vicente Silva
15 dez 2024, 06h18

São estarrecedores os dados sobre como a elite vê o governo Lula e o futuro do Brasil. Não há o que os demova da ideia de que só um Paulo Guedes – ressalte-se que o maior furador de teto de gastos até hoje – seja a salvação do Brasil, que para eles se resume a cifras e indicadores. O governo Lula, claro, está longe de acertar na maioria das escolhas e algumas são especialmente desnecessárias.
A trapalhada comunicacional do governo em ter anunciado a isenção do Imposto de Renda para aqueles que ganham até 5 mil reais junto do plano para o corte de gastos é clara e evidente. Não havia motivos para tratar do assunto, quando se sabia que nem o plano era o mais esperado pelos operadores financeiros.
A conta é simples: se o mercado entende que a economia está superaquecida e a pleno emprego, deixar essa faixa com mais dinheiro na mão fará com que ela gaste mais. Com mais poder de compra, os setores de varejo e serviços serão ainda mais impulsionados, o que, na visão dos investidores e tomadores de decisão do capital financeiro, é algo a se combater, ao menos neste momento. Isso fica claro quando se olha para os números da pesquisa: para 85% dos entrevistados, a economia tende a piorar, ante 15% apenas que acredite que ela melhore caso seja aprovada a isenção do IR para os que ganham até 5 mil reais.
Feita as ressalvas dos atropelos do governo, é preciso dizer que talvez pouco importa esta ou aquela atitude por parte do executivo atual, quando se constata que em uma hipotética disputa entre Lula e Bolsonaro e, 2026, o ex-presidente e todo seu histórico golpista, teria, atentem bem, 80% de intenção de votos. É, para dizer o mínimo, inacreditável que os operadores do capital financeiro pensem desta forma. Mas eles não só pensam, como vão além.
Repare que em grande maioria os entrevistados pela Quaest não fazem ressalvas, uma vez que tudo é visto com um pessimismo exacerbado que pouco parece ter a ver com a realidade. Quando a pergunta é sobre o quanto a política econômica está indo na direção certa, 96% dizem estar na direção errada. Simples assim, mesmo depois de errarem seguidas vezes sobre o crescimento do PIB e outros indicadores.
A sandice vai além. Quando questionados sobre como ficou a imagem do Brasil no exterior, desde que Lula tomou posse, 64% disseram que a imagem do Brasil ficou, pasmem, pior. 24% diz estar igual e 12% acredita que melhorou. Para 88%, portanto, o Brasil no exterior é pior visto ou continou igual quando comparado com o antecessor Jair Bolsonaro. Quero crer, e o leitor mais atento também, que a pergunta se refira especificamente ao cenário econômico, embora não pareça ser este o conteúdo da pergunta.
Não sendo este o objetivo da Quaest para a referida pergunta acerca da imagem internacional do Brasil, chegamos à conclusão de que aquele cenário de descontrole total da pandemia, de arroubos antidemocráticos e de toda a controvérsia com a vacina seja visto como algo de melhor aparência porque foi acompanhado de uma política econômica que desperta nostalgia na turma do mercado .
Claro que quando Bolsonaro sai de cena, dada a sua inelegibilidade, quem vem para os braços da Faria Lima é Tarcísio de Freitas, o tal moderado do momento. 78% dos entrevistados acredita que o governador de São Paulo é o mais indicado para o posto de presidente em um cenário sem Jair Bolsonaro. Não lhes foi perguntado, mas não seria difícil imaginar que em um eventual ministério da Segurança Pública de Tarcísio, o preferido para assumir o posto seria Guilherme Derrite, aquele que nem o bolsonarismo ousou trazer para as fileiras do Executivo. Não para por aí. Os dados da pesquisa mostram que eles vão muito além.
Era de se pensar que em um cenário em que Lula estivesse fora, um candidato mais ao centro e até razoavelmente aprovado por eles fosse despontar. Não é bem assim que funciona. Se a eleição fosse entre Bolsonaro e Haddad, por exemplo, 71% estaria com o ex-presidente, ante 21% dos que votariam no atual ministro da Fazenda. E se Lula estiver no jogo em 2026 e tiver de concorrer com Pablo Marçal, a preferência é clara: 65% apoiariam o coach, contra 17% dos que optariam por votar em Lula. E mesmo entre Pablo Marçal e Haddad, o candidato do PRTB teria maioria: 54% contra 33% do candidato do PT.
Se esse cenário não é ideológico em um nível extremado, eu não sei dizer o que pode ser classificado como tal. Por fim, mas longe de ser menos importante, está a confiança em lideranças políticas. Quanto Lula é confiável para os operadores do mercado financeiro? 3% confiam mais ou menos nele, frente a 97% que não confia nada no atual presidente. Quanto à confiança em Bolsonaro, 5% diz confiar muito, 31% diz confiar mais ou menos. Quase o mesmo índice dado a Gabriel Galipolo, o novo presidente do Banco Central a partir de 2025. Ou seja, todos apoiaram a volta do ex-presidente para o jogo sem problema algum. E quem são os mais confiáveis? Roberto Campos Neto (70%), Tarcisio de Freitas (69%) e Romeu Zema (47%). Sem muitas surpresas por aí.
O que mais estarrece é que não fosse Tarcísio de Freitas o querido da vez e tivesse Braga Netto, por exemplo, sido eleito governador de algum estado com projeção e importância, talvez estaríamos vendo uma intenção de votos altíssima em um general quatro estrelas preso neste sábado, 15, por envolvimento em uma trama golpista descabida e da qual muito ouviremos falar. Certamente sua confiança seria altíssima por parte dos financistas e investidores, indiferente do histórico de suas ações em outros setores.
Quanto à democracia? Para gestores, analistas e tomadores de decisão do capital financeiro isso pouco tem importância e não é uma variável determinante para escolhas que eles fazem.

* Rodrigo Vicente Silva é mestre e doutorando em Ciência Política (UFPR-PR). Cursou História(PUC-PR) e Jornalismo (Cásper Líbero). É editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política. Está vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem). Contribui semanalmente com esta coluna.

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