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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Por que milhões de evangélicos estão abandonando suas igrejas

Teólogo Rodolfo Capler analisa o fenômeno dos “desigrejados” que cresce cada vez mais dentro do segmento religioso no país

Por Rodolfo Capler
Atualizado em 12 Maio 2022, 17h52 - Publicado em 9 Maio 2022, 07h47
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  • Segundo o último senso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2010, o número de “cristãos evangélicos não determinados”, era de 9,2 milhões, o que perfazia 21% dos evangélicos na época. Os cristãos “indeterminados” são uma categoria de evangélicos que não romperam com as confissões dogmáticas do Cristianismo, porém se desvincularam da forma institucional das igrejas. Conhecidos popularmente no seio do evangelicalismo brasileiro como desigrejados, esse contingente de fiéis não para de crescer, chegando hoje – segundo alguns estudiosos do fenômeno -, à marca de mais de 16 milhões de pessoas, o que os elegeria (se fossem uma denominação), como o segundo maior grupo confessional do país, ficando apenas atrás das Assembleias de Deus.

    Em linhas gerais, os desigrejados consideram que a igreja está desvirtuada em sua natureza, na essência, na proposta relacional comunitária e em sua oferta de missão e serviço. Eles denunciam a distância entre o que se vê hoje na prática nos ambientes religiosos e o que poderia ser feito visando o melhor dos fundamentos colocados por Jesus e seus apóstolos. Para o teólogo Nelson Bomilcar, autor da obra “Os sem igreja: buscando caminhos de esperança na experiência religiosa”, os seguintes subgrupos integram o fenômeno, a saber: a) Os assumidos sem-igreja: aqueles que se identificam como não pertencentes a nenhuma igreja e portanto não possuem vínculos, parcerias ou compromissos institucionais com comunidades e denominações; b) Os desencantados com a igreja: pessoas que se decepcionaram com a instituição formal religiosa e permanecem a uma distância preventiva da experiência comunitária de ser igreja; c) As pessoas inseridas como membros de uma igreja ou como líderes eclesiásticos que vivem relacionamentos superficiais e quase nulos na igreja; d) fiéis recolhidos em pequenos grupos que se reúnem informalmente em casas, escritórios, salões alugados, parques ou escolas, e que não querem serem vistos ou reconhecidos como uma organização; e) indivíduos que foram alvos de abuso espiritual por parte da liderança e que estão decepcionadas com as relações e a instituição; g) os sem-igreja que acompanham mensagens e reflexões pela internet. 

    São muitos os fatores que refletem na subsistência do fenômeno dos desigrejados, porém se destacam os aspectos internos (eclesiásticos) e os aspectos externos (sociológicos). Entre os fatores internos, se encontram a decepção com promessas feitas em nome de Deus e que nunca se cumpriram, desapontamentos relacionais, além das práticas e ensinos questionáveis ministrados em ambientes eclesiásticos e a repulsa com os maus exemplos e corrupções das lideranças (pastores, bispos e apóstolos). Já os fatores externos podem ser compreendidos dentro do momento histórico em que vivemos – da chamada pós-modernidade ou modernidade radicalizada -, fortemente marcado por uma visão de mundo pragmática e utilitária e por uma pluralidade de escolhas religiosas, que permite ao indivíduo experimentar conteúdos religiosos diversos.

    O fenômeno dos desigrejados deve levar os cristãos evangélicos e suas lideranças a refletir em pelo menos duas grandes questões: Isso seria apenas mais uma crise que acompanha a igreja desde seus primórdios, mas hoje com uma nova roupagem e com novos argumentos teológicos? Ou, o fenômeno é uma prova incontestável de que as igrejas evangélicas necessitam de uma reforma eclesiológico-institucional?

    Penso que a última pergunta se faz mais pertinente e, por este motivo, requer um olhar mais atento não só dos cristãos, mas do público geral, pois as igrejas evangélicas, via de regra, se posicionam de forma distante das demandas dos seus fiéis e fomentam estruturas institucionais pouco atrativas às pessoas. Com as inúmeras mudanças sociológicas provocadas nos últimos 50 anos e com o advento das redes sociais on-line, o perfil do fiel evangélico mudou drasticamente. Hoje o evangélico deseja participar das decisões institucionais de suas comunidades de fé, almeja ambientes mais democráticos e transparentes e é muito mais flexível em questões comportamentais. Por estas razões, ou seja; em decorrência da obsolescência das igrejas, têm havido uma deserção de milhões de cristãos evangélicos no Brasil, que diariamente engrossam as fileiras dos desigrejados.

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    A tendência nos próximos anos é o número de evangélicos “não determinados” aumentar no mesmo ritmo do crescimento das igrejas evangélicas, que – segundo prospecções de estudiosos – em 2036 se tornarão hegemônicas no cenário religioso. Infelizmente, grande parte dos pastores no Brasil não se atentou para este fenômeno, que em essência, é uma contundente denúncia do status quo. As igrejas evangélicas estão cada vez mais cheias, porém as suas portas dos fundos se tornam progressivamente mais largas a cada dia.

    * Rodolfo Capler é teólogo, escritor e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP

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