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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Por que a TV não morreu (ou ressuscitou) nestas eleições 

Em artigo enviado à coluna, o cientista político Rodrigo Vicente Silva mostra que televisão e internet continuam coexistindo e que este cenário não é novo

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 16 set 2024, 12h11 - Publicado em 16 set 2024, 10h30

Até meados de 2018, pouco antes das eleições daquele ano, sempre que você conversava com alguém sobre a eleição presidencial era praxe ouvir que, começado o horário gratuito em rádio e televisão, o então candidato Geraldo Alckmin subiria nas pesquisas. Pudera, Alckmin tinha a sua volta um arsenal de partidos que formavam a maior coligação daquela eleição, o que lhe dava um latifúndio de radiodifusão. Passados alguns meses, às vésperas do pleito que elegeria Bolsonaro presidente, a conversa era outra. 

A sentença era uma só: o domínio da televisão havia acabado. Frente àquela eleição disruptiva, o que se pensava era a de que havia se iniciado o tempo da internet, da conversa direta entre candidato e eleitor. No fundo, não estávamos errados. Talvez, tenhamos sido fatalistas demais. Ao menos é o que revelaram duas pesquisas recentes para a prefeitura de São Paulo. Em ambas, a TV mostra força.  Essa história, veremos, não é nova. A História das mídias mostra que fatalismo e novas tecnologias sempre andaram juntos. 

Antes de qualquer discussão, vejamos os números das pesquisas divulgadas na última semana. O Datafolha, por exemplo, sugere que o paulistano tem na televisão o principal meio de comunicação. Para 45% dos entrevistados, a televisão é o meio pelo qual as pessoas mais se informam sobre as eleições, contra 21% que diz ver pela internet. A pesquisa feita pela Quaest também revela fenômeno semelhante, mesmo dando foco diferente à pergunta. Quando indaga ao entrevistado por onde ele mais é impactado sobre os candidatos nas eleições municipais, 69% dizem que é pela televisão, ante 59% que dizem acompanhar pela internet. 

Obviamente, há questões geracionais e sociais que fazem esse número ir para cima ou para baixo. Quanto mais escolarizado o público, mais a televisão perde importância e dá lugar à internet. Mesmo assim, mostra o Datafolha, um terço dos que possuem ensino superior ainda continua sendo impactado pelos programas e propagandas eleitorais televisivos. 

Para além dos números que mostram que a televisão segue firme, acho que os últimos anos mostram o que a própria história da imprensa nos provou ao longo de sua existência: não há mídia que morra da noite para o dia. Aliás, elas dificilmente morrem, são reinventadas e se reorganizam frente às novas tecnologias que surgem. 

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Há um livro interessantíssimo que trata desta discussão, chamado “Uma história social das mídias” de Peter Burke e Asa Briggs. Os historiadores ingleses tentam entender como a mídia, a partir principalmente da invenção da prensa móvel de Gutenberg, foi evoluindo e incorporando novas tecnologias com uma rapidez imensa. 

Burke e Briggs lembram que essa mesma sensação que vivemos, principalmente de 2013 para cá, é algo que caracteriza a história das mídias. Se até então, estávamos achando que a televisão havia acabado e que a internet seria a única a ter um um lugar ao sol; no passado, dizem os autores, o medo era o de que a fala – sim a voz falada mesmo – daria lugar apenas ao escrito, já que em fins do século XVI se popularizava as impressões de livros e que, portanto, não precisaríamos mais se falar, apenas ler. 

O tom catastrófico é, portanto, marca do advento de novas tecnologias de mídias. Houve – talvez os bem mais velhos se lembrem –  aquele momento em que se decretou o fim do rádio, porque não haveria mais como competir com a televisão, que trazia além do som, a imagem do que acontecia. Não foi bem assim. Ambas acharam formas de sobreviver. Essa, aliás, é uma das teses da obra de Burke e Briggs, a de que as tecnologias de mídia passam a sobreviver juntas, cada uma com sua importância e lugar. 

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Se no passado recente, achávamos que em tempos de Instagram e de um cenário cada vez mais imagético, não haveria mais lugar para o áudio, surgiram os podcasts para mostrar que estávamos cansados de ver tanto e era preciso ouvir mais. Os autores lembram que com o telégrafo havia sido assim. Surgido para facilitar a comunicação de forma mais rápida, os jornais impressos não fariam mais sentido, dado que não haveria mais novidades a se dar pelas manhãs. De novo, não foi bem assim que se deu a história. O telégrafo, claro, se reinventou, deu espaço ao telefone e outros meios e o jornal está aí, mesmo que diferente, tentando sua vital e fundamental importância. 

O leitor deve estar se perguntando se com a internet não tudo foi diferente, dado que as mudanças têm ocorrido em uma velocidade nunca antes vista. Pode ser. O furacão das redes sociais nos últimos anos tem sido impetuoso, mas, como também temos visto, os outros meios estão por aí, mostrando que têm lugar. 

Perdoe-me a insistência, já característica nesta coluna, mas o que falta à internet mesmo, a fim de que ela passe a fazer parte das novas tecnologias de mídia é a sua regulação, para conter seus males às democracias mundo afora. Feito isso, creio eu, poderá conviver ao lado da televisão, do rádio, do jornal e de outros meios já existentes ou daqueles que possam surgir. O resto, a História já nos mostra como foi e como deve ser. 

* Rodrigo Vicente Silva é mestre e doutorando em Ciência Política (UFPR-PR). Cursou História (PUC-PR) e Jornalismo (Cásper Líbero). É editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política. Está vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem). Contribui semanalmente com esta coluna

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