Com os seus vetos, o presidente Jair Bolsonaro acabou de lapidar o orçamento para ficar à sua imagem e semelhança. Tem todas as prioridades invertidas.
Todo mundo sabe que neste momento há necessidade de mais dinheiro para a educação, e não menos. Os desafios cresceram. Mas a tesoura de Bolsonaro cortou forte lá. O INSS, que tem uma fila de quase dois milhões de pessoas para se aposentar, sofreu corte na manutenção das agências.
Também não ficaram de fora cortes em áreas importantes, mas nunca valorizadas pelo atual presidente, como a pesquisa científica e as políticas públicas para indígenas e quilombolas. A Fiocruz, instituição que exerceu papel fundamental durante a pandemia, sofreu um corte de R$ 11 milhões na sua verba destinada à pesquisa e desenvolvimento.
O presidente também tirou R $17 milhões da verba já magérrima do combate às queimadas – mesmo depois de grandes desastres ambientais provocados no Pantanal, na Amazônia e na Mata Atlântica durante seu governo.
E o que Bolsonaro protegeu?
A verba para o fundão eleitoral hoje é quase três vezes maior do que na campanha de 2018. Ou seja, o dinheiro dos políticos cresceu. As emendas parlamentares foram para R$ 35,6 bilhões, mais do que no ano passado, e – dentro delas – o famigerado orçamento secreto, que ficará com 16,5 bilhões.
Está protegido também o valor de R$1,7 bi para “aumento de servidores”. Mas na verdade, esse é o valor exato que ele prometeu para a Polícia Federal. Se ele for efetivado, haverá a pressão dos outros servidores e será difícil conter a avalanche. A começar pela Receita Federal.
Repercussão
A Ong Todos pela Educação reagiu de forma correta aos cortes do governo atual. “A Educação Básica foi, de longe, a mais afetada, com 54% do total do veto (uma grande parte operacionalizado pelo FNDE). São R$402 milhões em diversas ações, algumas delas importantes para o enfrentamento da pandemia no curto prazo e outras mais estruturantes”, afirmou Lucas Hoogerbrugge, líder de Relações Governamentais da Ong.
O corte no INSS teve reação imediata dos servidores, por exemplo. Eles acreditam de fato que pode haver paralisia total nas atividades do órgão.
O custo ficará muito maior.
A julgar pelo orçamento de Bolsonaro, o país continuará cortando onde não pode, e gastando onde não deve.