Partidos que não conseguiram grandes resultados nas eleições deste ano terão que se movimentar para não caírem na chamada cláusula de barreira e perderem acesso aos recursos do fundo partidário e às propagandas em rádio e televisão.
Entre os que estão ameaçados, destaque para o PSOL, de Guilherme Boulos, a Rede, de Marina Silva, e o PCdoB, de Manuela D’Ávila. As três legendas têm posições ideológicas relevantes, mas podem ver seus projetos morrendo se não encontrarem uma forma de ganhar representatividade.
Uma das estratégias possíveis seria a fusão com algum partido maior para evitar que a legenda fique pelo meio do caminho, mas a pulverização observada nas eleições pode dificultar essas alianças. Como a coluna mostrou, partidos que conseguiram se unir ganharam força no segundo turno, mas as legendas que se mantiveram sem posição definida perderam visibilidade.
Segundo determina a cláusula de barreira, a partir de 2022, só terão direito ao fundo partidário e às propagandas as siglas que obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 2% dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 1% dos votos válidos em cada uma delas; ou que elegeram pelo menos 11 deputados federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da federação.
Fazendo a análise do percentual de votos recebidos para o cargo de vereador em todo o país nas eleições municipais, que não são levadas em conta, o PCdoB conseguiu 1,7% dos votos, o PSOL alcançou 1,6% e a Rede teve apenas 0,7%. O partido com maior percentual no gráfico, elaborado pelo cientista político Jairo Nicolau, é o MDB, com 8,4% dos votos. PCdoB e Rede já tinham sido afetados em 2018.
Embora o desempenho de Guilherme Boulos – que disputou o segundo turno em São Paulo contra Bruno Covas – tenha sido surpreendente, o partido tem mais força em cidades com mais de 500 mil habitantes e pouca representação em municípios menores. O mesmo pode-se dizer de Manuela D’Ávila e do PCdoB.
Na análise de votos para vereador nas cidades com mais de 500 mil habitantes, por exemplo, o percentual do PSOL foi de 4,8% dos votos. Já o PCdoB sobe o percentual para 2% nas cidades com mais de 500 mil habitantes e a Rede sobe para 1,2%. Essa dificuldade de alcançar a população de cidades pequenas pode atrapalhar os planos dos partidos de expandir sua posição no país.
Sobre o desafio que bate à porta, em 2022, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), admite a dificuldade em alcançar a cláusula de desempenho. “É difícil, mas não impossível. Teremos um ano de muitas movimentações partidárias. Vamos ver”, disse Dino à coluna.
O desempenho na eleição de prefeitos também não foi marcante para os três partidos. O PCdoB saiu de 80 prefeituras em 2016, para 46 neste ano. O PSOL de duas em 2016 para cinco neste ano. E a Rede, que tinha quatro prefeituras em 2016, conquistou cinco em 2020.
A eleição para deputados federais será decisiva para esses partidos no pleito de 2022. Até lá, as legendas terão que analisar qual é a melhor estratégia para impedir que seus projetos para o país fiquem para trás.