
Em política, os analistas costumam levar em conta diversos fatores pouco mensuráveis: clima político, onda eleitoral, acertos estaduais e/ou regionais que influenciam os eleitores etc. Há, porém, um fator que supera todos eles: a matemática das urnas.
Lula teve no primeiro turno 57,2 milhões de votos. Bolsonaro teve 51 milhões. Os principais adversários de Lula e Bolsonaro tiveram, juntos, 9,6 milhões de votos (4,9 milhões de Simone Tebet, 3,6 milhões de Ciro Gomes, 600 mil de Soraya Thronicke e 560 mil do candidato de Felipe D’Ávila).
É basicamente neste universo de votos que Bolsonaro e Lula precisarão buscar a vitória.
A tarefa para a campanha de Bolsonaro é bem complexa, matematicamente falando. O atual presidente precisa tirar uma diferença de 6 milhões de votos dentro deste universo de 9,6 milhões de eleitores.
A matemática, portanto, desfavorece o presidente. Ele teria, então, que trilhar dois caminhos: tentar levar mais gente para votar (tentando reduzir as abstenções do primeiro turno) e talvez virar algum votinho que foi depositado para Lula no primeiro turno – talvez do eleitor que é mais suscetível a medidas governamentais de cunho eleitoral.
No caso de Lula, o importante é empatar o jogo nesta disputa pelos 9,6 milhões de eleitores. Em relação à votação do primeiro turno, quando teve 48,43% dos votos válidos, Lula só precisa, em tese, de 1,9 milhão de votos para ser eleito (ou 19,7% dos votos disponíveis). É uma matemática possível.
Historicamente, tanto o primeiro quanto o segundo colocado ganham eleitores no segundo turno. A única exceção foi Geraldo Alckmin, em 2006, que teve menos votos na segunda rodada do que na primeira. De resto, todos cresceram.
Em 2002, Lula teve 14,8% a mais de votos no segundo turno. Serra teve 15,5%. Quatro anos mais tarde, Lula teve 12,2% a mais (Alckmin perdeu 2,5%). Em 2010, Dilma (+9,1%) e Serra (+11,3%) cresceram. O mesmo movimento ocorreu em 2014 (Dilma +10,1% e Aécio +14,8%). Na última eleição, Bolsonaro cresceu 9,1 pontos no segundo turno e Haddad subiu 15,6.
Outro dado matemático importante é o percentual de votos que o candidato do PT arregimentou no segundo turno dentro daqueles disponíveis: 48,8% (2002), 125,3% (2006), 44,6% (2010), 40,4% (2014), 63,1% (2018).
Ou seja, o PT, em média, herda 64,4% dos votos que foram depositados para outros candidatos no primeiro turno. Se tirarmos o fenômeno de 2006, que eleva muito a média, essa herança fica em 49,2%.
Se Lula receber 49,2% dos votos que foram depositados para Simone, Ciro, Soraya e D’Ávila, estará eleito. Bolsonaro precisa desesperadamente evitar essa transferência de votos e ainda tentar tirar algum voto de Lula – seja virando-o para si próprio ou torcendo para o eleitor ficar em casa.