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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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O papel dos professores para estimular a leitura nas crianças e jovens

Qual é a receita para formar um país de leitores? Especialista Eduardo Saron reflete sobre as pistas que estão na última pesquisa sobre livros

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 set 2020, 15h55 - Publicado em 18 set 2020, 17h25

Na volta à escola para a qual o Brasil se prepara há uma informação a ser levada em conta pelos professores: eles são grandes indutores do hábito da leitura. Em entrevista à coluna, o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, falou sobre a importância do papel do professor e comentou dados da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgada nesta semana, que conta com a parceria da instituição liderada por ele.

De acordo com o gestor, nas faixas dos cinco aos 10 anos e dos 10 aos 14 anos, “o papel do professor é muito relevante” e, por isso, ele acredita que é hora de mobilizar ainda mais os professores nessa retomada das aulas após o afastamento causado pela pandemia do coronavírus. “É muito importante, também, avançar no aumento do número de salas de leitura e de bibliotecas nos estabelecimentos de ensino, todas bem equipadas e com mediadores bem preparados”, afirma Eduardo Saron.

A questão se coloca agora com mais dados e informações. A 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil traz informações fundamentais para desenhar a importância dos pais, professores, gestores públicos e líderes em todas as áreas para ampliar o hábito de leitura no país.

A influência da mãe, por exemplo, aparece de forma relevante para determinar o hábito de leitura dos estudantes. Segundo a pesquisa, na faixa etária dos cinco aos 10 anos, 28% dos entrevistados afirma gostar de ler por influência da mãe.

Outro dado importante revelado pela pesquisa é o fato de que o livro impresso ainda é a preferência de 67% dos leitores, embora as novas tecnologias estejam reduzindo esse percentual. “O livro impresso ainda é mais lido, mas, de fato, estamos perdendo espaço para o universo eletrônico”, destaca Eduardo Saron.

Embora a leitura digital esteja crescendo, o especialista acredita que é importante usar as novas tecnologias como aliadas, e não como oponentes para fortalecer o hábito da leitura.

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A pesquisa também mostra que, entre os anos de 2015 e 2019,  o índice de leitura caiu entre os mais ricos e os universitários. Para o diretor do Itaú Cultural, um dos motivos para a queda é a perda do espaço do livro para a internet. “É fundamental transformar, acima de tudo, o hábito da leitura em uma prática cultural, tal como o é ouvir música ou assistir a um filme”, enfatiza o gestor. Confira abaixo a entrevista completa com Eduardo Saron:

Veja – O que pode ser feito para estimular o aumento da leitura?

Eduardo Saron – Para começar, temos de levar em consideração que, nas faixas de idade dos cinco aos 10 anos e dos 10 aos 14 anos, o papel do professor é muito relevante. Porém, é importante observar esta dinâmica em três camadas. Uma, é a escola. Outra, a família. Mais uma abrange especialmente as faixas etárias dos 10 aos 14 anos, pois são os amigos que, a partir desta etapa da vida, passam a ser mais importantes até do que a escola e os familiares. Pensando na escola, o importante é mobilizar ainda mais os professores. De acordo com esta quinta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que traça o arco de 2015 a 2019, 15% dos entrevistados que leem gostam de fazê-lo por influência da escola ou dos professores. Esse percentual sobe para 21% na faixa etária de 11 a 13 anos.

É muito importante, também, avançar no aumento do número de salas de leitura e de bibliotecas nos estabelecimentos de ensino, todas bem equipadas e com mediadores bem preparados. É igualmente importante lembrar que, neste ano, deveríamos alcançar na totalidade a meta nacional de zerar o número de escolas sem bibliotecas ou sem salas de leitura. Isso está previsto na Lei 12.244, sancionada em maio de 2010, que previa a construção de mais de 64,3 mil bibliotecas em escolas públicas até 2020. Estamos longe de alcançar esta meta. Dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019, divulgados em setembro do ano passado, apontavam que apenas 45,7% das escolas públicas de ensino básico contavam com bibliotecas ou salas de leitura em suas instalações.

Outra pesquisa realizada pelo Instituto Pró Livro, aplicada pelo Insper e avaliada segundo resultados do Saeb e Ideb em 2019, também demonstrou o impacto positivo das bibliotecas escolares na aprendizagem dos alunos.

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Em relação à família, devemos envolver ainda mais os pais e as mães no processo de construção de afeto e acesso ao livro. Veja que na Retratos da Leitura temos a indicação de que, na faixa etária dos cincos aos 10 anos, por exemplo, 28% dizem gostar de ler por influência da mãe. Em relação à população brasileira com mais de cinco anos, o levantamento mostra que a influência do professor ficou em primeiro lugar, com 11%, mas, se considerarmos quem respondeu ter sido influenciado pela mãe e o pai, esse percentual alcança 12%, confirmando a importância da família.

Na camada que se refere aos jovens, é necessário estimular uma produção robusta de lançamentos de mais livros infanto-juvenis envolvendo o universo destes jovens potenciais leitores. Outro caminho, neste aspecto, é se valer das demais expressões artísticas, como a música, o teatro e o cinema, para alavancar a paixão pela leitura. De novo cito a Retratos, que detectou que, entre os entrevistados leitores de literatura, 54% o fazem por terem visto filmes baseados em livros, 50% por indicações de amigos e 38% estimulados por letras de músicas.

Saindo dessas três camadas, é absolutamente necessário, por um lado, combater o analfabetismo funcional e, por outro, estimular que os horários livres gastos pelos jovens na internet, sejam mais usados para a leitura de livros. Estamos perdendo leitores para a web. Na pesquisa, foram apresentados dados entre os leitores e 66% deles usam o seu tempo livre navegando na internet; eram 47% em 2015. Pelo menos 47% dos leitores respondentes alegam não ler livros por falta de tempo e 9% por falta de paciência. Esse dado ganha importância se considerarmos não apenas os leitores, mas os brasileiros que informam terem dificuldades para ler: são 28%.

 Veja – Em qual faixa etária aconteceu o maior crescimento de leitura?

Eduardo Saron – Atualmente, o Brasil conta com 52% de leitores, pouco mais de 100 milhões de pessoas, mas isso representa uma diminuição de aproximadamente 4,6 milhões de leitores em relação a 2015. As principais reduções foram detectadas entre adolescentes de 14 a 17 anos e jovens de 18 a 24 anos, indivíduos com nível de escolaridade médio e superior e de todas as faixas de renda familiar.

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A boa notícia é que, ao contrário, a faixa etária entre 5 a 10 anos apresentou um acréscimo de quatro pontos percentuais na proporção de leitores. Muito provavelmente, esse é o desdobramento de um melhor investimento na primeira fase do ensino básico. Há poucos dias, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o principal indicador da educação do país, anunciou que houve avanços neste setor no Brasil, puxados principalmente pela rede pública de ensino, que avançou em todas as etapas de escolarização.

Veja – Como você vê a questão de que o índice de leitura caiu entre os mais ricos?

Eduardo Saron – Caiu entre os mais ricos e universitários e isso muito se deve a essa perda do espaço do livro para a internet, que mencionei.  É fundamental transformar, acima de tudo, o hábito da leitura em uma prática cultural, tal como o é ouvir  música ou assistir a um filme. Também é preciso que haja a compreensão de que esse hábito cultural pode ser exercido, inclusive, no mundo digital. A internet não deve ser vista como oponente, mas, sim, como um aliado no papel do artista e das outras manifestações e linguagens culturais para incentivar a leitura.

Veja – O que os pais e professores devem fazer?

Eduardo Saron – Como comentei antes, pais e professores entram nas diferentes camadas que compõem a dinâmica de incentivo à leitura e da formação de leitores desde cedo, de modo a estimular que ler um livro se torne um hábito cultural.

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Veja – Há conflito entre livro e equipamentos eletrônicos, ou é apenas um formato diferente (o impresso e o digital)?

Eduardo Saron – O livro impresso ainda é mais lido, mas, de fato, estamos perdendo espaço para o universo

eletrônico. A Retratos da Leitura, nos indica que entre os leitores, 67% ainda preferem o livro impresso e 17% o digital.  Insisto, no entanto, em que é necessário não observar os instrumentos digitais como oponentes, mas como aliados, incluindo  as diferentes artes, para abrir caminho e se apropriar do mundo eletrônico como um espaço a mais.

Veja – Como aumentar a presença do livro, seja de que formato for, entre os mais pobres no meio dessa crise econômica?

Eduardo Saron – Um passo muito importante é criar mais ações junto às comunidades, como bibliotecas comunitárias, saraus literários e atividades em torno do livro. Temos de ter políticas públicas e iniciativas da sociedade que reúnam as pessoas em torno destas ações e eventos.

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Veja – O que acha do aumento da tributação (da contribuição de bens e serviços que o governo propôs) sobre os livros?

Eduardo Saron – Precisamos de programas sistêmicos de apoio ao letramento, que unam políticas e iniciativas dos governos que possam interagir com as empresas e a sociedade. Para formar esses programas existem as bibliotecas, os mediadores de leitura, as bibliotecas comunitárias, a necessidade dos artistas e do mundo cultural se mobilizarem em torno do livro e as empresas se envolverem. Tudo isso inclui os livros serem acessíveis, o que também passa pelo valor.

Em números absolutos, as classes C, D e E juntas somam 27 milhões de brasileiros consumidores de livros. O valor do livro é determinante para 16% vindos da classe A, 25% da C e 23% das D e E. De acordo com a renda familiar, os percentuais praticamente dobram de 15% para quem tem renda de 5 a 10 salários-mínimos, para 28% com renda de um a dois salários-mínimos. Os números falam por si.

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