Exatamente uma semana depois que a coluna alertou que Lula precisa se comunicar melhor com os agentes econômicos, o presidente eleito voltou a fazer um discurso desconectando – de forma equivocada – a responsabilidade fiscal da responsabilidade social.
Durante discurso na COP 27, nesta quinta, 17, Lula afirmou que “não adianta ficar pensando só em responsabilidade fiscal, porque a gente tem de começar a pensar em responsabilidade social”.
A fala é um erro, porque não é possível desconectar as duas coisas. Se a ideia de Lula é sinalizar para o país e, principalmente, para os mais pobres que ele vai manter os compromissos de campanha e buscar recursos para as áreas sociais, ele pode fazer isso de outras formas, como já vem fazendo desde que venceu a eleição. O discurso crítico à responsabilidade fiscal é prejudicial e pode atrapalhar o novo governo.
“Quando você coloca uma coisa chamada teto de gastos, tudo o que acontece é você tirar dinheiro da saúde, tirar dinheiro da educação, tirar dinheiro da ciência e tecnologia, tirar dinheiro da cultura, ou seja, você tenta desmontar tudo aquilo que faz parte do social e não mexe em um centavo do sistema financeiro. Você não mexe em um centavo daquele juro que o banqueiro tem de receber”, disse o presidente eleito.
As articulações da equipe de Lula para aprovar a chamada PEC da Transição já estão funcionando. Ou seja, o discurso atacando o teto de gastos faz ainda menos sentido. A proposta foi entregue ao Senado na quarta, 16, e prevê gastos fora do teto para viabilizar promessas como o Bolsa Família de R$ 600 e o aumento do salário mínimo acima da inflação.
Em outro momento do discurso, Lula também criticou as oscilações do mercado.
“Ah, mas se eu falar isso vai cair a bolsa, vai aumentar o dólar. Paciência, mas o dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores”, afirmou.
Lula precisa mudar a postura quanto antes. A subida do dólar e a queda da bolsa podem dificultar os planos do novo governo, aumentar a inflação e impactar ainda mais a vida dos mais pobres. Os benefícios que o presidente eleito quer dar aos mais necessitados podem não ter nenhum efeito se o poder de compra diminuir com uma inflação crescente.
Esse não é o cenário que o Brasil quer viver.