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O legado de Bernardo Paz

Daniel Lança analisa a obra de Bernardo Paz, mecenas idealizador do Inhotim – o maior museu a céu aberto do mundo

Por Daniel Lança
24 jan 2022, 08h32

Legado e propósito são duas palavras bem poderosas na mentalidade coletiva. De acordo com a Pirâmide de Maslow, tais concepções estão no topo das atuais necessidades humanas. Que marca deixamos na história certamente é uma reflexão instigante e que perpassa gerações, seja no impacto nas pessoas, na imagem pública ou em alguma herança concretamente construída. No mundo recente das artes no Brasil, talvez ninguém tenha construído – e ainda constrói – um legado tão convincente como o mecenas Bernardo Paz.

O empresário mineiro é uma figura excentricamente interessante. Com personalidade cativante, visão futurística e dono de um estilo inconfundível, fez sucesso empresarial no ramo de mineração. Mas é possível dizer, sem medo de errar, que seu principal legado é o Instituto Inhotim. E isso não é pouca coisa.

O que Paz construiu em Brumadinho, interior de Minas Gerais, é certamente uma das maiores joias artísticas do mundo. Criado em 2006, uma exótica mistura de jardim botânico e arte contemporânea em uma vasta área de mais de 140 hectares esconde pavilhões e exposições de arte exibidas ao ar livre. Artistas renomados como Cildo Meirelles, Adriana Varejão, Tunga, Hélio Oiticica, Olafur Eliasson, Matthew Barney e Chris Burden são exibidas de maneira surpreendentemente impressionante e sem igual em qualquer lugar do globo. Não à toa, o museu recebe visitantes estrangeiros como poucas atrações no país e tem amplo reconhecimento internacional.

O termo mecenato – patrocínio das atividades artísticas e culturais – tornou-se ilustre no período renascentista, como na dinastia dos Médice em Florença; até os dias atuais, vez por outra, surge algum nome capaz de deixar um legado dessa envergadura nas artes, como foram no século passado Guggenheim, Rockfeller e Ford, por exemplo.

Comparáveis a Paz, no Brasil, estão nomes históricos como Assis Chateaubriand e Francisco Matarazzo Sobrinho, que assim como o mecenas mineiro deixaram legado como investidores das artes ao patrocinarem a criação do Museu de Artes de São Paulo (MASP) e o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), respectivamente. Neste século, Bernardo Paz é provavelmente o maior mecenas da arte brasileira – como reconhecido por instituições da área, como o Art Review.

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Bilionários tendem a deixar legados mais óbvios, como empresas, trusts, imóveis, dinheiro. Alguns mais excêntricos, como Elon Musk, sonham em tripular o espaço e colonizar Marte. Bernardo Paz investe tudo o que tem – não só capital, mas tempo, inteligência e criatividade – no Inhotim, seu legado para o mundo. Impressionantemente, há alguns anos ele doou o patrimônio do Inhotim – imobiliário e benfeitorias – à OSCIP que administra o Instituto, que por sua vez possui forte e independente governança. E de lá nada lucra; pelo contrário, Paz ainda é o principal mantenedor, mesmo em tempos de crise.

Aos 71 anos e com enorme vigor, o mecenas ainda projeta sonhos grandes para o Inhotim, o que confirma seu ímpeto caracteristicamente visionário que o distingue. Dentre eles, estão as construções de um imponente hotel e uma vila que coexistirão com o museu em um sistema autossustentável de energia.

Absolvido das condenações a ele imputadas no passado, Bernardo Paz certamente ficará lembrado para a posteridade como o maior mecenas da arte brasileira nestes tempos atuais. Seu legado – o Instituto Inhotim – sobreviverá para lembrar ao mundo a ousadia, excentricidade e visão especiais de um homem singular. 

Daniel Lança é articulista e advogado, Mestre em Ciências Jurídico-Políticas pela Universidade de Lisboa. É Professor convidado da Fundação Dom Cabral (FDC) e Head de ESG & Compliance do Instituto Inhotim

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