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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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O general arrependido de Bolsonaro

Rêgo Barros se tornou escritor e crítico do governo, mas ajudou na eleição e nos primeiros anos da "gestão" atual presidente

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 nov 2021, 10h59 - Publicado em 5 nov 2021, 10h24

O General de Divisão do Exército Otávio Rêgo Barros é um claro exemplo de autoridade que mudou o rumo de sua carreira para se aliar ao governo de Jair Bolsonaro e se arrependeu da escolha diante do fascismo declarado do atual presidente.

O militar de alta patente mostrou, ao longo dos anos, que é um comunicador nato. Em 2014, assumiu a função de chefe do Centro de Comunicação Social do Exército e foi um dos principais assessores do então comandante dessa força, general Eduardo Villas Bôas.

Em janeiro de 2019, aceitou o convite do presidente Jair Bolsonaro e tornou-se porta-voz da Presidência da República, onde ficou até outubro de 2020, quando o cargo foi extinto. Na época, Rêgo Barros foi exonerado depois de ser “jogado para escanteio” pelo presidente. Saiu sem prestígio e, desde então, passou a escrever artigos em diferentes veículos de comunicação.

Uma leitura rápida por alguns textos escritos pelo general mostra que, além de escrever muito bem, Rêgo Barros tem consciência – ao menos é o que parece – dos erros grotescos do governo atual e das falhas que militares cometem ao se envolver na política.

No fim de outubro de 2020, por exemplo, dias depois de ser exonerado da equipe do governo, o general escreveu o artigo “Não há projeto de país, apenas de poder” para o Jornal do Commercio.

Em um dos trechos do texto, Rêgo Barros afirma: “o planejamento conduzido por lideranças é amador. Falta um projeto sustentado, um projeto de Estado. A ânsia do político em colocar a coroa, ainda que de lata, se sobrepõe ao interesse coletivo do servir”.

Outra crítica pertinente feita pelo general tem a ver com o envolvimento das Forças Armadas com o governo. Como esta coluna já apontou, a atual gestão utiliza os militares como se as Forças fossem uma instituição de governo e não de Estado. Um erro grave que não tem sido combatido pelos militares.

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Em um artigo escrito para Veja em dezembro de 2020, Rêgo Barros afirma que “militar deve ponderar muito se desejar se envolver em política” e destaca que “somos uma instituição de Estado, perseguidora dos princípios constitucionais, que se qualifica como a mais conceituada aos olhos da população. Não tem coloração na política, tem o matiz verde e amarelo da sociedade brasileira”.

Diante das colocações de Rêgo Barros, continua no ar a pergunta: quando as Forças Armadas vão fazer a devida ponderação e admitir que erraram ao se envolver com a política novamente? Aliás, foi com Rêgo Barros no comando da comunicação social do Exército que um comandante da força fez o maior ato político desde a ditadura militar (1964-1985).

Isso ocorreu em 2018, quando Eduardo Villas Bôas digitou 239 caracteres em sua conta pessoal no Twitter, afirmando o seguinte: “Asseguro à nação que o Exército brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões constitucionais.”

A ameaça ocorria quando o Supremo Tribunal Federal (STF) discutia o habeas corpus do ex-presidente Lula, e que poderia livrá-lo da prisão. A intimidação (sim, foi ameaça) do general Villas Boas, que ele alega ter sido apenas um “alerta”, foi fundamental para o petista perder a ação na corte pelo placar apertado de 6 votos a 5.

O agora ex-porta-voz da Presidência da República general Otávio Rêgo Barros
O agora ex-porta-voz da Presidência da República general Otávio Rêgo Barros (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

“Pois bem, agora o escritor enlouqueceu. Imaginou novo mandato do presidente. Mas se concentra nas mazelas — crises ou crimes, sei lá, — criadas pelo mandatário e seu grupo para manter-se no poder. […] A euforia da eleição passada ficou pelo caminho. A inflação anual descontrolou-se. Beira os sessenta por cento. Somente os mais velhos viveram situação semelhante”, diz um dos textos escritos recentemente por Rêgo Barros, este no Correio Braziliense.

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Outro dia uma fonte chamou a minha atenção para eu não escrever este texto sobre o general. “Ele está ajudando”, ponderou. Sim, está. Mas nós, como jornalistas, respondemos pelo que escrevemos há 5, 10 anos. Como devemos agir em relação aos atores públicos brasileiros?

A aproximação com o governo atual vai trazer dividendos para as forças e as consequências negativas serão vistas ao longo dos anos, com tantos militares subindo em palanques para levantar a bandeira de um governo e não de um país.

Para além da vergonha do Exército, o arrependimento do general Rêgo Barros é também mais uma demonstração de como o governo não consegue manter aliados diante de tantos erros e falta de gestão. 

É sempre bom lembrar que houve resistência à eleição do atual presidente, que já demonstrou traços fascistas em diversas ocasiões, assim como assessores e ministros de sua equipe.

Rêgo Barros, com a carreira respeitável que construiu, deveria não só se mostrar arrependido, mas agradecer por não fazer mais parte de uma gestão marcada por absurdos e por fracassos.

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