Com a expectativa de movimentar mais de R$ 2,5 bilhões em negócios, começa nesta terça, 16, no Tocantins, a Agrotins, o maior evento do setor agropecuário no Norte do Brasil e a segunda maior feira do setor no país. Ela tem como tema o Compliance no Agro, porque o governo está de olho em ampliar a presença no mercado internacional, onde só entram produtos cuja origem não está ligada ao desmatamento, como a Europa.
Em entrevista à coluna, o governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa, fala sobre o papel do Estado em promover a agenda ESG como estratégia fundamental para o sucesso contínuo do agronegócio, ao permitir que produtores e consumidores desfrutem de uma cadeia de suprimentos responsável e confiável.
“Queremos mostrar ao mundo que o agronegócio não é inimigo do meio ambiente e que é possível crescer protegendo nossos biomas”, diz. “Assim como é possível separar a ideologia política da agenda econômica que realmente interessa e é urgente para o país”, completa sobre a crise entre o agro e governo Lula.
Como garantir que o compliance seja, de fato, adotado pelo setor?
Wanderlei Barbosa – A implementação do compliance no agronegócio é crucial na busca por novos mercados. Os mercados atuais e potenciais são extremamente exigentes quando se trata de questões sanitárias, trabalhistas, ambientais e diversas outras regulamentações que os produtores devem seguir rigorosamente.
Ao aderir às regras e normas, os produtores não apenas atendem às exigências de mercado dos 100 países para os quais exportamos, mas também estabelecem bases sólidas para o crescimento sustentável do setor. Assim, defendemos que o compliance não é apenas um requisito legal, mas também uma oportunidade para impulsionar a competitividade, aumentar a confiança dos consumidores e garantir a responsabilidade socioambiental.
O governo está desempenhando um papel de liderança ao apoiar esse esforço coletivo, visando difundir a cultura do compliance e garantir que os produtores estejam devidamente habilitados para realizar a exportação de seus produtos. Essa iniciativa é de extrema importância para assegurar a qualidade, a sustentabilidade e a conformidade dos produtos agrícolas, além de fortalecer a reputação do agronegócio como um todo.
Quais os diferenciais agrícolas do estado?
Wanderlei Barbosa – Eu costumo dizer que o Tocantins é a nova fronteira agrícola do país. Somos a bola da vez. Nosso estado tem sido um destino atrativo para investidores do setor agropecuário por diversos motivos. Um dos principais é a condição climática favorável que o estado possui. Há muitos anos não enfrentamos problemas de safra devido a questões climáticas.
Além disso, a fertilidade do solo e a facilidade de mecanização são vantagens significativas. Temos uma regularidade de chuvas muito boa e, em algumas regiões, apresentamos os melhores índices pluviométricos do Brasil.
Esses fatores, aliados à infraestrutura logística, como ferrovias e rodovias, tornam Tocantins um local propício para investimentos no setor agropecuário. Por fim, construímos, nos últimos anos, todo o arcabouço legal que dá sustentação e segurança jurídica aos players.
Tocantins tem potencial para se tornar um grande celeiro nacional?
Wanderlei Barbosa – Temos a ambição de transformar o Tocantins em um importante celeiro, capaz de ajudar a suprir as crescentes necessidades alimentares do mundo, sem colocar em risco o nosso compromisso com a preservação ambiental.
Atualmente, o estado possui uma significativa produção de grãos, ocupando cerca de 1,4 milhão de hectares. A pecuária ocupa pouco mais de 8 milhões de hectares, enquanto mais de 27 milhões de hectares em nosso território são preservados, incluindo áreas de preservação permanente nas propriedades particulares e parques. Existem ainda cerca de três milhões de hectares disponíveis para expansão em áreas altamente produtivas sem comprometer o meio ambiente.
E o objetivo é garantir que mais da metade do estado permaneça preservada, assim como a natureza a criou. Essa condição é uma característica única que poucos estados possuem. A questão ambiental é uma premissa fundamental do governo do Tocantins. Sabemos que não dá mais para falar em desenvolvimento econômico sem colocar a preservação ambiental em primeiro lugar.
Como garantir o crescimento do agronegócio sem comprometer o meio ambiente?
Wanderlei Barbosa – Reconhecemos a importância dos agricultores nesse processo, e o potencial que têm para impulsionar a economia local, promover a segurança alimentar e preservar a cultura agrícola tradicional.
Hoje existem mais de mais de 60 mil pequenas propriedades espalhadas por todo o estado, incluindo assentamentos, chácaras e pequenas propriedades. Nosso desafio é contribuir para que esse pequeno agricultor encontre assistência técnica, conhecimento, programas que facilitem a aquisição de produtos necessários para a plantação e oportunidades de negócio para que ele não desista de investir no campo.
Nas áreas próximas às cidades, por exemplo, encontramos uma grande quantidade de chácaras e pequenas propriedades, o que garante uma oferta constante de produtos provenientes da agricultura familiar, através dos pequenos produtores ao mercado local.
Recentemente, o ministro da Agricultura foi desconvidado da Agrishow, a maior feira agrícola do país. Ele foi convidado para ir à Agrotins?
Wanderlei Barbosa – Convidamos as principais autoridades do agronegócio para o evento, como o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Pedro Lupion. Será uma oportunidade de eles conhecerem de perto a realidade da nova fronteira agrícola do país, em um Estado que está comprometido com a preservação, sem virar as costas para o agronegócio.
Acreditamos que podemos ajudar o Brasil nessa jornada de mostrar ao mundo que o avanço do agronegócio e a defesa do meio ambiente não são pautas excludentes, assim como é possível separar a ideologia política da agenda econômica que realmente interessa e é urgente para o país.
Um dos assuntos importantes a tratar é, por exemplo, o avanço do Tocantins, que passará de zona livre de aftosa ‘com vacinação’ para livre de aftosa ‘sem vacinação’. Isso é muito importante para o país, e permitirá ao Tocantins acessar outros mercados, como o europeu, que exige essa condição.