Assine VEJA por R$2,00/semana
Matheus Leitão Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
Continua após publicidade

O bem mais escasso de 2020

Davi Lago afirma que é necessário um esforço conjunto de lideranças competentes em ambos domínios, ciência e política, para conquistar o respeito público

Por Davi Lago
27 dez 2020, 14h15
  • Seguir materia Seguindo materia
  • O ano de 2020 ficou marcado por fatos como a pandemia (de proporções não vistas desde a Gripe Espanhola em 1918), o fechamento das fronteiras nacionais (não visto desde a Segunda Guerra 1939-1945) e o fortalecimento global da luta antirracista (ecoando o movimento dos direitos civis da década de 1960). Foi o ano dos “cancelamentos” (de personalidades virtuais às Olimpíadas de Tokyo) e dos “governantes incidentais”, mandatários que demonstraram absoluto despreparo em quesitos básicos de liderança pública (a razoável exceção foi Angela Merkel).

    Publicidade

    O genuíno ineditismo de 2020, entretanto, está no campo técnico-científico. Podemos citar dois exemplos emblemáticos: o início da exploração espacial pela iniciativa privada (com a primeira missão tripulada da SpaceX) e o desenvolvimento das primeiras vacinas contra a Covid-19 (em tempo recorde na história da medicina). A herança mais imediata para 2021 é justamente uma série de conflitos discursivos como “pró-vacina versus antivacina” e “cientistas versus políticos”. Esta situação é resultado tanto da ausência de lideranças qualificadas como do aumento da complexidade social, e deixa as democracias constitucionais expostas ao velho perigo do moralismo político anticientífico.

    Publicidade

    As raízes desta situação remontam ao período Iluminista, quando se estabeleceu a distinção do discurso em dois tipos: aquele cuja finalidade é promover o “bem” e aquele que aspira a estabelecer o “verdadeiro”. Os iluministas afirmaram uma dicotomia entre o domínio da vontade, cujo horizonte é o “bem”; e o domínio do conhecimento, orientado para o “verdadeiro”. O exemplo da primeira ação seria a atividade política; da segunda, a atividade científica. Os iluministas concebiam, assim, uma diferença entre fato e interpretação, entre ciência e opinião, verdade e ideologia. Ambos os campos do saber são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade. O problema surge quando um campo invade a competência do outro. Deste modo, “moralismo” é impor uma ideia de “bem” no âmbito do “verdadeiro”, ou seja, sob pressão da vontade, os fatos se tornam uma matéria maleável. Por outro lado, o perigo inverso é o “cientificismo”:  quando os valores parecem decorrer do conhecimento e as escolhas políticas se travestem em deduções científicas.

    Como 2020 deixou claro, o moralismo anticientífico está mais vivo do que nunca. Para neutralizá-lo em 2021 é necessário um esforço conjunto de lideranças competentes em ambos domínios, ciência e política. Em todo caso, conquistar o respeito público é um fator essencial. Hoje, o recurso mais escasso do planeta é este: credibilidade.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    * Davi Lago é pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo

     

    Publicidade
    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.