Nada como uma eleição após a outra
Eleições regionais mostram como partidos voltam a se unir em alguns estados, mas mantém distanciamento em outros
No Brasil, nada como uma eleição após a outra para resgatar alianças que foram desfeitas no passado ou para ampliar os desgastes entre alguns partidos.
O relacionamento entre PT e PDT é prova de que cada eleição os interesses podem se juntar ou não, a depender do estado. No segundo turno das eleições municipais que acontecerão no próximo dia 29 de novembro, os dois partidos têm posturas diferentes em relação à sua união em cada estado.
Em Fortaleza, por exemplo, a aliança se refez. Por lá, o segundo turno será disputado entre José Sarto (PDT) e Capitão Wagner (PROS). O PT anunciou seu apoio a Sarto na segunda parte da disputa e o presidente da legenda em Fortaleza, Guilherme Sampaio, disse que o partido “não pode ficar omisso”.
O apoio acontece após a derrota da candidata petista Luizianne Lins, que terminou o primeiro turno em terceiro lugar. No primeiro turno, o governador Camilo Santana, do PT, tentou se equilibrar entre o apoio a Lins e Sarto
Em Recife, a recíproca não aconteceu e o PDT se recusou a ficar ao lado do PT. Os primos Marília Arraes (PT) e João Campos (PSB) disputam o segundo turno e, em vez de ficar ao lado do PT, o PDT decidiu apoiar a candidatura de Campos.
O posicionamento gerou desconforto dentro do PDT e o deputado federal Túlio Gadelha (PDT) foi na contramão da orientação da legenda e manifestou seu apoio a Marília Arraes. Nesta segunda, 23, o presidente do PDT, Carlos Lupi, afirmou que “quem for do PDT e não estiver com esta chapa [de João Campos] não tem mais o que fazer no PDT”, em um claro recado a Túlio Gadelha.
Em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, a aliança entre PT e PDT funcionou e foi para o segundo turno. Candidato a prefeito, Dimas Gadelha (PT) tem como vice o vereador Marlos Costa, presidente do PDT no município. Eles enfrentarão Capitão Nelson (Avante) no segundo turno da disputa.
Uma possível vitória da chapa entre PT e PDT fortalece os partidos na região metropolitana do Rio, já que o PDT manteve a prefeitura de Niterói e o PT venceu as eleições em Maricá e teve um vice eleito no primeiro turno em Itaboraí.
A história entre PT e PDT teve momentos difíceis em 2018, nas eleições presidenciais. Ciro Gomes era o candidato do PDT à presidência e, em certo momento, chegou a dizer que o PT “fez o diabo” contra ele durante a campanha.
Ciro fez várias críticas ao ex-presidente Lula e terminou a disputa em terceiro lugar. No segundo turno, o PT esperava o apoio de Ciro à candidatura de Fernando Haddad, mas ela não aconteceu. Em vez disso, Ciro Gomes viajou para a Europa e deixou a relação ainda mais estremecida.
Em 2019, os desgastes continuaram e Ciro Gomes chamou Lula de “defunto eleitoral” ao afirmar que o ex-presidente é carta fora do baralho em disputas eleitorais pelos próximos anos.
Mesmo com a troca de farpas entre os dois partidos, é possível ver uma tentativa de aproximação em alguns estados. Nos bastidores, Ciro Gomes inclusive procurou Lula para reestabelecer o relacionamento.
Ciro e Lula gravaram junto com Marina Silva e Flávio Dino o vídeo de apoio a Guilherme Boulos no segundo turno, em São Paulo. Algumas alianças vão sendo refeitas num movimento de união da esquerda que tenta reconquistar lugares importantes do país.