Lula tem, acertadamente, revogado medidas de última hora do governo Jair Bolsonaro e outras que fazem parte de uma visão ideológica equivocada do ex-presidente da República, como a distribuição descontrolada de armas.
Para o senador eleito Hamilton Mourão, contudo, uma eleição como a do ano passado – voto a voto – dá ao bolsonarismo algum tipo de salvo conduto eterno.
Disse o general da reserva à Folha: “[Lula] chegou com espírito de revanche e sem entender que venceu uma eleição no photochart, portanto sem um apoio francamente majoritário”.
Agora pronto. São apenas dois dias de governo!
Depois de ser a linha auxiliar de uma gestão que colocou o país no retrocesso, no negacionismo e no obscurantismo – ou seja, nas trevas – Mourão quer que o presidente eleito mantenha as bizarrices que, em parte, incomodavam até ele mesmo.
Como se sabe, Mourão virou pária para a família do ex-presidente. E muitas vezes por ter um postura menos extremista (o senador também é afeito ao extremismo) que a do seu companheiro de chapa de 2018. Não à toa, foi preterido da chapa de 2022.
Outro dia, o vereador Carlos Bolsonaro chamou o senador eleito de “bosta”. “B-O-S-T-A”! E sabem o que Mourão fez para merecer isso? Com razão, afirmou que o silêncio de Bolsonaro após o resultado das urnas estava criando o caos no país.
Aliás, o caos foi criado em vários momentos do mandato anterior. Caos institucional, caos na Saúde, caos no meio ambiente, caos na Cultura, caos nas Forças Armadas, caos na Polícia Federal, caos nos direitos humanos, caos nas Relações Internacionais.
Mas, segundo o senador eleito, o que está mesmo na hora, após dois dias de governo, é de o PT “compreender o país que precisam governar, despindo seus preconceitos políticos, econômicos e ideológicos”.
Mourão bem que poderia ter dito isso nos últimos quatro anos.