Brasileiro gosta de novela e não tem nada de errado nisso. É um gênero maravilhoso. À medida que Jair Bolsonaro vai definhando nas pesquisas, o ex-juiz Sérgio Moro pode crescer sim e terminar no segundo turno contra Lula, o que seria um tira-teima épico, bem à brasileira, após todos os erros cometidos pela Lava Jato.
Moro tem que explicar várias questões neste processo, como apontado pela coluna, no momento em que tenta se colocar como uma terceira via. Mesmo já estando com os mesmos números de Ciro Gomes, precisa dizer por exemplo como conseguiu condenar Lula no processo do triplex, sem provas, e depois seguir para o governo Bolsonaro.
Nesta quarta-feira, 10, Moro apareceu, após um forte mídia training que, na minha visão, não funcionou muito. Lendo o TP (teleprompter), em tom não muito natural, criticou tanto Lula quanto a família Bolsonaro. E ainda mostrou que quer pegar a bandeira liberal rasgada por Paulo Guedes, já que o atual presidente nunca foi liberal de fato.
Vejam isso: Moro se disse contra a mudança no teto de gastos, contra a PEC dos Precatórios e afirmou que, quando enfim vai se privatizar alguma coisa no país, coloca-se um “monte de jabuti”.
Ao bradar chega de mensalão, chega de rachadinha, chega de petrolão, Moro ouviu da plateia cadeia para Lula e cadeia para Flávio Bolsonaro. Sinceramente, o Brasil é um roteiro impensável.
O juiz que tirou da corrida eleitoral o primeiro colocado das pesquisas em 2018, e foi trabalhar para o segundo colocado assim que ele venceu o pleito, aparece tentando se fincar com estaca no meio dos dois.
Fala em Forças Armadas de Estado, e não de governo, fala em Davi e Golias, de olho nos evangélicos, faz frase efeito: “minha voz pode não agradar, mas o importante é ouvir a voz do povo”. “Chega de orçamento secreto. E de enganar o povo brasileiro”.
Já vimos o populismo de esquerda, o populismo de direita e agora estamos vendo alguém tentar o populismo de centro. Acorda, Brasil. Que fase – 2022 exigirá paciência de todos nós. Pelo menos o ex-juiz disse “chega de tratar mal os jornalistas”. Mas era difícil não acertar nada em quase uma hora de discurso.