O ex-presidente Lula é hoje o favorito para vencer as eleições de 2022. Líder absoluto das pesquisas eleitorais, após ter passado mais de 500 dias na cadeia e conseguir a anulação de suas condenações, ele poderá ser protagonista da história mais incrível ja vivida por um líder brasileiro. Da cadeia ao planalto.
Mas por que o petista poderá ser o maior político da história se vencer e fizer um bom governo? Do ponto de vista das figuras míticas da política brasileira, ele já superará Juscelino Kubistchek. Getulio Vargas, outra figura expressiva, é um ponto fora da curva na historia por ser um misto de ditador e presidente eleito.
As manifestações populares da ditadura do Estado Novo (1937 a 1945), por exemplo, eram organizadas pelo próprio regime político. A imagem de Vargas, trabalhada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). A censura comia solta, como na ditadura militar (1964-1985).
A polícia de Vargas, por exemplo, manteve um intercâmbio institucional com a Gestapo. O DIP interferiu em todas as áreas da cultura brasileira e na imprensa, como conta o brilhante livro “Brasil, Uma Biografia”, das historiadoras Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Starling.
Só no ano de 1942, para se ter uma ideia, foram proibidas 373 canções. Mas Vargas ainda sairia do poder e voltaria democraticamente pelo voto. Tomou fôlego e voltou, digamos assim. Mas, reparem, quando Vargas é deposto não tem povo nenhum na rua defendendo o ditador.
Por tudo isso, Lula, que sempre teve povo na rua em seu favor, também será maior que Vargas se vencer novamente – e não só pelo fato de ter assumido pelo terceiro mandato democraticamente. Mas pelo compromisso de Lula com a democracia brasileira. Isso o faz crescer e o distingue historicamente de Vargas.
Lula também combinou as políticas sociais com democracia. Vargas fez a legislação trabalhista, mas sem combinar isso com um regime democrático.
“Sim, Lula poderá ser o maior de todos na política brasileira. Não existe precedente na história do Brasil. E ele sabe disso. Na verdade, se ele se candidatar sabe que não pode perder. A angústia dele deve ser essa. Dessa vez não pode se arriscar a errar”, afirma a historiadora Heloísa Starling.
Aí está outro ponto chave. Lula enfrentará uma eleição que será disputadíssima, com candidatos competitivos como o próprio presidente Jair Bolsonaro, numa situação de polarização que deverá ser reproduzida como em 2018 – isso sem falar em Ciro Gomes e outros candidatos que podem surgir.
Se vencer, ainda terá outra questão fundamental. Como será um terceiro mandato do petista? Ele vai pegar um país com muita dificuldade. Lula assumiu pela primeira vez em 2003 em um momento muito bom do país na economia. Colheu esses louros e tomou decisões certas, terminando o segundo mandato com cerca de 80% de aprovação.
Se assumir em 2023, sucedendo Bolsonaro, Lula ganhará uma herança maldita, um país endividado e com um grande número de desempregados. Bem diferente do que quando recebeu após os governos Fernando Henrique Cardoso.
Ainda assim, é um fato: do poder à cadeia – e depois de volta ao poder. Da miséria para a presidência, da perda da primeira mulher, da segunda mulher, de um neto, para a volta por cima numa eleição. Com um terceiro mandato ganhado no voto após a redemocratização, Lula poderá ser sim o maior dos políticos brasileiros.