A tão esperada e temida reforma tributária que começou a ser debatida na Câmara nesta quarta, 5, será retomada hoje, 6.
Entre suas principais questões está a alteração do modelo de tributação “origem e destino”. Ou seja, de os impostos cobrados pelos produtos serem destinados ao estado em que forem consumidos. Nesse caso, São Paulo sai na frente, pois é uma das unidades da federação que mais possuem consumidores.
Olhando por esse lado, o texto atual acabou sendo interessante para ambos os lados – seja o de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, seja o de Fernando Haddad, ministro da Fazenda.
Embora o retorno financeiro comece a fazer diferença somente daqui a 50 anos, a união entre os dois é muito importante para o momento político que vivemos. Em um país com tantos conflitos e tão polarizado como o Brasil, essa união do governador bolsonarista com o ministro lulista vem em boa hora.
Aliás, a reunião dos dois foi objetiva – e uma ótima cena para o governo Lula, que diz querer pacificar o povo.
Mas isso acabou irritando Jair Bolsonaro.
O ministro da Fazenda chegou a elogiar a atuação do governador de São Paulo por ter colocado os interesses nacionais acima de questões regionais e partidárias, mas o bolsonarismo, como se sabe, não aceita essa justificativa.
O líder da extrema direita e seus apoiadores – que fazem questão de se posicionar de forma contrária e ideológica, sem pensar no que é o melhor para o Brasil – começaram uma mobilização ainda na noite de quarta.
Depois de saber o resultado da reunião entre Tarcísio de Freitas e Fernando Haddad, o ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro Fabio Wajngarten publicou um texto assinado por Jair Bolsonaro cobrando oposição plena aos projetos do governo Lula no Congresso: “A todos aqueles que se elegeram com nossas bandeiras de ‘Deus, Pátria, Família e Liberdade’, peço que votem contra a PEC da Reforma Tributária”.
“Não à Reforma Tributária. Lula se reúne com o Foro de SP (criado em 1990 por Fidel Castro, Lula, FARC, …), diz ter orgulho de ser comunista, que a Venezuela impera a democracia, é amigo de Ortega que prende padres e expulsa freiras, seu partido fez ferrenha oposição a nós por 4 anos e comemorou a minha inelegibilidade. Só por isso, caso fosse deputado, votaria ao longo de todo o meu mandato contra tudo que viesse do PT”, diz o texto assinado pelo ex-presidente.
A publicação de cunho totalmente ideológico foi compartilhada pelos deputados federais Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, e Mario Frias, ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro.
A artilharia disparada por Jair Bolsonaro e seu entorno é um recado tanto para Tarcísio quanto para a base do PL – que já afirmou que não deve liberar seus parlamentares, orientando-os a votar contra, mas sem punição para dissidentes.
Tarcísio e Haddad se enfrentaram civilizadamente em debates para o governo de São Paulo sem partir para ofensas pessoais. Agora atuam – até aqui – como políticos sérios, sentando-se a uma mesa e conversando sobre um tema fundamental para todos. Bem diferente do que a gente viu durante o mandato do inelegível ex-presidente.