A conhecida conduta do governo de Jair Bolsonaro de tentar esconder os fatos ocorridos durante a ditadura militar ganhou uma nova e grave denúncia.
Três escritores que venceram o prêmio Memórias Reveladas do Arquivo Nacional em 2017, com trabalhos sobre o período da ditadura, tentam até hoje ter suas obras publicadas pelo Arquivo Nacional.
Em carta escrita a esta coluna, Lucas Pedretti, Marco Pestana e Pedro Teixeirense denunciam a omissão do Arquivo Nacional em cumprir o edital da premiação de 2017 com a publicação dos trabalhos que venceram o projeto.
Segundo eles, a omissão do órgão tem a ver com o contexto de “franco enfraquecimento e desmonte” do prêmio Memórias Reveladas.
A reclamação não é em vão. De fato, há uma orientação do governo para esconder essas obras e impedir que histórias importantes sobre o período sejam divulgados ao público, segundo apurou a coluna.
Os três escritores venceram a quarta edição do prêmio do Arquivo Nacional, que realizou um concurso de monografias com fontes documentais referentes ao período do regime militar no Brasil.
As três edições anteriores do Memórias Reveladas já foram publicadas. A quarta edição permanece sem publicação.
Lucas Pedretti escreveu a obra “Dançando na mira da ditadura: bailes soul e violência contra a população negra nos anos 1970”; Marco Pestana foi autor da obra “Estado, empresários e favelados: a política de remoções sistemáticas de favelas no Rio de Janeiro”; e Pedro Teixeirense venceu o prêmio com a obra “A invenção do inimigo: história e memória dos dossiês e contra-dossiês da ditadura militar brasileira”.
Embora o concurso tenha acontecido em 2017, a divulgação do resultado final aconteceu apenas em setembro de 2018. Ao longo de 2019 e 2020, os autores explicam que foram contatados pelas áreas técnicas do Arquivo Nacional para revisão, editoração, diagramação, elaboração da capa e outros detalhes das publicações.
Depois de receberem a versão final dos trabalhos, os autores ficaram aguardando a publicação das obras.
“Em junho de 2021, após muitos meses sem nova comunicação por parte do Arquivo Nacional, nós, autores, decidimos nos reunir para conversar sobre a situação, com o intuito de atuar coletivamente na busca de respostas”, explicam Lucas, Marco e Pedro.
Os autores entraram em contato com a Coordenação de Pesquisa, Educação e Difusão do Acervo do Arquivo Nacional em junho. A resposta chegou no mês seguinte.
Segundo eles, o órgão respondeu que o atraso se deu pela dependência de contratações externas de serviços para realizar as entregas, como no caso das impressões.
Depois dessa resposta, os três autores afirmam que não houve mais nenhuma comunicação por parte do Arquivo Nacional, mesmo com tentativas de contato por parte dos vencedores do prêmio.
“Uma instituição de caráter público simplesmente não respondeu às mensagens encaminhadas nos meses de julho e agosto de 2021”, afirmam.
Em uma nova tentativa, os escritores tentaram ter acesso às respostas por meio da Lei de Acesso à Informação. De acordo com eles, o Arquivo Nacional respondeu no último dia do prazo e os dados passados não foram suficientes, já que não houve esclarecimento sobre a publicação das obras.
A denúncia de Lucas Pedretti, Marco Pestana e Pedro Teixeirense apenas reforça uma realidade que já vem sendo vista nos últimos meses. Não há nenhum interesse, por parte do governo, de esclarecer o que aconteceu durante a ditadura.
Pelo contrário, quanto mais os órgãos puderem abafar os fatos, mais perto estarão da vontade de quem atualmente comanda o país. Em tempo: o Arquivo Nacional está subordinado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.