Dá-lhe, STF!
O Supremo precisava reagir em defesa da democracia, mas a expectativa é em relação à reação do Congresso
Uma das coisas mais certas numa República é a de que uma Suprema Corte altiva garante o estado de direito. A prisão do deputado Daniel Silveira era inevitável diante não só de uma vida de ofensas ao STF, mas também pelos 19 minutos de sandices em novo vídeo contra o tribunal, alguns de seus ministros, mas especialmente mirando Edson Fachin.
Em sua fala, o deputado, além de insinuar que ministros são criminosos, faz pedidos inconstitucionais, como a substituição dos 11 magistrados do tribunal. O parlamentar defende, por exemplo, o AI-5, pior decreto da ditadura, que institucionalizou a perseguição aos opositores do regime, incluindo parlamentares e ministro do Supremo Tribunal Federal.
Além de adepto a teorias da conspiração, o parlamentar passa dos limites ao afirmar que Fachin é militante de partidos e “nações narcoditadoras”. Isso após chamar o magistrado de “mimado, canalha, mau caráter, marginal da lei, vagabundo, cretino e canalha”.
A reação mais enérgica contra Fachin – porque o parlamentar também ataca Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes no vídeo – se deve ao fato de que ha dois dias o magistrado fez críticas ao ex-comandante do Exército general Villas Bôas e afirmou que a pressão das Forças Armadas sobre o poder judiciário é “intolerável e inaceitável”.
Recentemente, Villas Bôas contou, em livro, como elaborou uma manifestação nas redes sociais no dia do julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Lula, em 2018. Segundo a versão, ela teria sido construída pelo Alto Comando do Exército.
O deputado bolsonarista foi à loucura com a crítica de Fachin ao general que se perdeu na condução da força armada, politizando-a. Basta ter memória para recordar a gravidade da nota de Villas Bôas. E também ter memória para lembrar que o deputado é reincidente em ameaçar o STF e adversários do presidente Jair Bolsonaro.
Cabe ao próprio STF e à Câmara dos Deputados punir Daniel Silveira, o parlamentar bolsonarista que foi polícia militar, exemplarmente. O deputado cometeu crime e liberdade de expressão não tem nada a ver com o que ele faz.
Já sabemos o que acontece quando a Justiça falha e os políticos fazem vista grossa a esses crimes em série. Foi assim que um deputado que viveu exaltando a tortura foi alçado à cadeira mais importante da República.