A guerra que se instalou nos tribunais de primeira e segunda instância do país pela vaga que Ednaldo Rodrigues ocupava na presidência da CBF até 7 de dezembro, quando foi afastado pelo TJRJ, trouxe à tona a complexidade da briga pelo poder que há anos corrói o futebol nacional.
Enquanto o agora ex-presidente defende seu mandato nas cortes superiores – há uma ADPF proposta pelo PSD em andamento no Supremo -, nomes ligados a velhos conhecidos da entidade se ocupam em construir seu caminho até a chefia máxima do futebol, confiando que novas eleições devem ser convocadas em janeiro, conforme o prazo estipulado pela Justiça na intervenção.
Acontece que os novos caminhos podem, na verdade, abrir portas ao passado.
Até agora, despontam como candidatos os nomes de Fernando Sarney, Flávio Zveiter e Gustavo Feijó. Em comum, além do fato de já terem ocupado altos cargos na entidade, os três guardam algum tipo de mágoa com relação à gestão de Ednaldo: ou porque não fizeram parte dela ou porque teriam saído feridos, como é o caso de Zveiter, ex-vice-presidente de Desenvolvimento e Projetos e ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva.
Zveiter é filho de outro jurista conhecido no meio, o advogado Luiz Zveiter, também ex-presidente do STJD e do Tribunal de Justiça do RJ, o mesmo que arrepiou a FIFA ao afastar a atual gestão em uma manobra jurídica considerada fora do comum por especialistas.
Flávio Zveiter foi réu por suspeita de desvio de recursos do Sistema S do Rio de Janeiro. Zveiter teria, supostamente, desviado para si R$ 5 milhões dos cofres do Sesc e do Senac do Rio de Janeiro por meio de contrato de honorários advocatícios firmado com a Fecomércio do estado.
Fernando Sarney, por sua vez, que é filho do ex-presidente José Sarney, ocupa cadeira cativa na vice-presidência da CBF há anos, desde a gestão de Marco Polo del Nero. Em 2015, o cartola renunciou à sua cadeira no Conselho da FIFA e indicou como sucessor o seu vice-presidente na época. O posto ficou com Sarney até o início deste ano, quando Ednaldo assumiu o lugar dele por indicação da Conmebol, a entidade máxima do futebol sulamericano.
À época, Sarney chegou a dizer para a imprensa que considerava “traição” a substituição e que o presidente da CBF tinha se “esquecido” de compromissos que assumiu com ele. Ele é um dos autores de uma ação que contesta na Justiça um acordo feito entre o Ministério Público e a CBF que teria resultado na eleição de Ednaldo. No entanto, em um documento assinado pela chapa da qual fazia parte – a mesma de Ednaldo – três dias antes da eleição, Fernando Sarney consentiu com as regras eleitorais acordadas com o MP.
Já o terceiro nome é o de Gustavo Feijó, ex-vice-presidente da CBF na gestão de Rogério Caboclo, antecessor de Ednaldo. Caboclo e seus vice-presidentes foram afastados da Confederação Brasileira de Futebol em 2021 após uma série de denúncias de assédio. Inconformado com a destituição da vice-presidência, Feijó tem empreendido uma batalha pessoal na Justiça contra Ednaldo.
Pouco depois que o baiano assumiu a presidência interina, em 2021, o ex-dirigente entrou com uma ação pedindo a destituição de Ednaldo e o acusando de uma lista de coisas que vão de nepotismo até uma suposta tentativa de prejudicar a confederação porque o presidente teria fechado um contrato com uma empresa de placas no valor de R$ 2 milhões, em vez de outra de R$ 6 milhões que, na concepção de Feijó, seria “muito superior”.
Depois das eleições deste ano, Feijó recorreu novamente à Justiça, e fez apelações contra o processo que levou Ednaldo ao poder. Foram essas apelações que foram acolhidas pela Justiça carioca em 7 de dezembro, quando o tribunal considerou nula a eleição e afastou Ednaldo da presidência.
Na última terça-feira, 19, Feijó entrou com um pedido no STF para que o relator da ação na Corte, o ministro André Mendonça, rejeite a ação do PSD que pede o reconhecimento do TAC firmado entre CBF e Ministério Público e, consequentemente, restitua Ednaldo ao cargo.
Os advogados do ex-vice de Caboclo afirmam que Ednaldo quer “seguir gastando dinheiro da entidade”. Em 2021, Caboclo foi acusado de oferecer R$ 8 milhões do caixa da CBF em troca do silêncio da funcionária que o acusou de assédio sexual e moral.
Até agora, não há em campanha aberta ou fechada nenhum nome considerado “outsider” para disputar as eleições, caso elas ocorram. Alguns apontam dirigentes de federações, mas acrescentam que eles não têm popularidade entre os colegas dos estados e dificilmente seriam eleitos. Ednaldo já sinalizou que, caso haja novas eleições, será candidato.