A trágica ironia da morte de Olavo de Carvalho
O guru do Bolsonarismo morre por conta do vírus de cuja existência ele duvidava
“O medo de um suposto vírus mortífero não passa de historinha de terror para acovardar a população e fazê-la aceitar a escravidão como um presente de Papai Noel”
A declaração de Olavo de Carvalho, dita em maio do ano passado, quando a Covid-19 mais matou brasileiros, revela muito sobre a personalidade do guru da extrema direita brasileira.
Morto nesta terça-feira, 25, justamente por complicações geradas pela Covid-19, já numa nova onda, Olavo de Carvalho também era o primeiro a criticar o sistema ideológico que ele mesmo defendia.
“Não existe direita. Existe bolsonarismo”, dizia constantemente o direitista convicto, seja publicamente, seja em conversas reservadas. Também criticava a vacina, que poderia ter fortalecido o seu sistema imunológico e poupado sua vida.
O ex-astrólogo e autointitulado filósofo Olavo de Carvalho poderia ter sido apenas um escritor de livros de textos duvidosos e de ideias fora do lugar, mas o bolsonarismo, precisando de um ideólogo, recorreu a ele.
Isso deu a Olavo de Carvalho muita notoriedade e uma certa influência no governo do qual ele se nutria e que criticava… em parte.
“Como administrador público, o Bolsonaro é o mais honesto e eficiente que já tivemos”, disse, falseando a realidade completamente, mas em seguida disse: “Como estrategista, na luta contra o comunismo, é um fracasso vivo rodeado de conselheiros ignorantes ou mal intencionados”.
O comunismo pertence ao passado desde a queda do Muro de Berlim, mas de fato a definição que fez dos conselheiros do presidente é perfeita. Inclusive poderia ser usada para definir a si mesmo, um grande conselheiro de Bolsonaro e seus filhos.
Recentemente, as críticas ao presidente e ao governo que ele tanto apoiou se multiplicaram, a ponto de, como uma onda de efeito colateral, rachar o bolsonarismo em dois.
Os Weintraub e o Ernesto Araújo que o digam – poderão, inclusive, seguir caminho próprio nas eleições de 2022.
Para a esquerda, uma extrema direita dividida será mais fácil de bater, especialmente com os números cada vez mais sólidos que Lula tem conseguido das pesquisas de intenção de voto.
Ainda não se sabe o resultado das eleições de 2022, mas o “filósofo”, ao que tudo indica, parece ter ajudado a destruir o que ele tanto ajudou a construir.
A ironia trágica para ele é que o negacionismo ao qual ele se aferrou para ser coerente com o bolsonarismo, negando a pandemia, o vírus, e os efeitos protetores vacina, ajudou a cavar sua própria sepultura.
Literalmente.
Ao fim e ao cabo, Olavo não passou de um sabotador de si mesmo. Independentemente disso, que ele possa descansar em paz.