A procuradora de Bolsonaro e o corte no microfone
Após quatro décadas no Ministério Público, Lindôra Araújo ainda não sabe que serve ao Estado brasileiro e não a um governo de plantão

Braço direito de Augusto Aras na Procuradoria-Geral da República, Lindôra Araújo resolveu assumir de vez que age em nome de um governo e não do Estado brasileiro.
A subprocuradora-geral cortou o microfone do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, no 9º Fórum Jurídico de Lisboa, após ele falar mal de quem? Jair Bolsonaro.
Lindora era mediadora do evento organizado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em Portugal, mas não aceita uma visão crítica ao atual governo.
O tiro, contudo, saiu pela culatra. Felipe Santa Cruz acabou aplaudido de pé, após ter seu microfone desligado por ela.
“Primeiro, nós enfrentamos a resistência sistemática, não pontual, mas cotidiana, de setores do Executivo, do supremo mandatário do nosso país, à própria ideia de combate a pandemia”, disse Santa Cruz.
Não há nada de errado na frase do presidente da OAB. Bolsonaro foi o negacionista dos negacionistas espalhados pelo mundo afora.
Santa Cruz continuou: ”Na semana em que mais morreram brasileiros de Covid, na semana mais terrível da pandemia, gastamos a nossa semana construindo um parecer sobre a bizantina discussão que tomou conta do mundo jurídico brasileiro e das redes sociais: do poder moderador das Forças Armadas”.
Outra verdade. O presidente da República, além de ser um vergonhoso antivax, é um gerador contumaz de crises políticas, o que, como tenho dito aqui na coluna, derrubou sua popularidade.
Lindora nem disfarçou quando explicou porque cortou o microfone enquanto Santa Cruz dizia que era preciso salvar a democracia brasileira.
“Bom, eu não entendi, não sabia que era um discurso político. Mas, de qualquer maneira, eu agradeço a todos e dou por encerrado o painel”, afirmou Lindora, numa alusão à provável candidatura de Santa Cruz no ano que vem no Rio de Janeiro.
O incrível é que Lindora está no Ministério Público desde 1984 – ou seja, há quase 40 anos – passou por diversos governos, mas até hoje não entendeu qual é a função constitucional do MP. Certamente não é de ser censora, nem protetora do governo de plantão.
Nisso, temos que admitir: parece muito com o presidente Jair Bolsonaro, que não entende a cadeira que ocupa.