A PF contra-ataca
Governo tentou manter corporação sob controle, mas operação contra Salles mostra trabalho técnico da Polícia Federal
O governo de Jair Bolsonaro abusou ao tentar interferir na Polícia Federal (PF). Depois de episódios que comprovam que a equipe do governo tentou mexer na corporação, a operação realizada nesta quarta, 19, contra o ministro Ricardo Salles mostra que os policiais agem de forma técnica e não vão aceitar tentativas de controle de sua atuação.
As desconfianças em relação às ações do governo na PF começaram em abril do ano passado, quando o então Ministro da Justiça Sérgio Moro deixou o cargo após a demissão de Maurício Valeixo da direção-geral da Polícia Federal. Na época, Moro afirmou que havia interesse do presidente Jair Bolsonaro em interferir na PF e a demissão de Valeixo seria uma prova disso.
A saída de Moro iniciou uma série de outras atitudes que reforçaram a tese de que há uma interferência política do governo na corporação.
Neste ano, como a coluna mostrou, mais um passo foi dado para manter a PF sob controle. A saída de Alexandre Saraiva da superintendência no Amazonas após a apresentação de uma notícia-crime contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, provou que o governo não queria ser contrariado.
Embora Saraiva tenha apresentado provas contundentes contra Salles, nada foi feito pelo governo em relação ao ministro. Agora, a PF mostra que há indícios da participação de Salles em crimes contra a administração pública.
Nesta quarta, 19, a PF deflagrou a Operação Akuanduba, que apura a exportação ilegal de madeira para Estados Unidos e Europa, e cumpriu mandados de busca em endereços ligados ao ministro Ricardo Salles. Servidores de órgãos do Ministério do Meio Ambiente também são alvos da operação.
A ação foi resultado de uma cooperação com autoridades policiais americanas e a PF foi direto ao STF, sem passar pela Procurador-Geral da República, que ja havia arquivado um caso semelhante.