A nova jogada de Bolsonaro e de Flávio para amedrontar o país
Em entrevista, filho Zero Um finge que eles não inflamam seguidores contra as urnas
Uma entrevista do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para o jornal Estado de S.Paulo – publicada nesta quinta, 30 – revela a tentativa do bolsonarismo de amedrontar a nação no que diz respeito ao resultado das eleições.
Mas não para por aí.
Mostra que o movimento da extrema-direita também quer fingir que o presidente da República, pai de Flávio, não fez nada – rigorosamente nada – até agora para instalar o caos no país.
Questionado sobre a possibilidade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não acatar as sugestões das Forças Armadas em relação ao processo eleitoral, o senador primeiro deixou a tensão no ar.
“Se as Forças Armadas apontam vulnerabilidades, e o TSE não supre, não resolve esses problemas, é natural que essas pessoas, talvez via comandante do Exército, via ministro da Defesa, tenham que em algum momento se posicionar”, sugeriu o senador.
A dúvida é: para os bolsonaristas, o que significa “se posicionar”? Pelo histórico, o posicionamento não deve ser pacífico ou amigável. Afinal, esse governo – e seus aliados de primeira hora – nunca estiveram do lado da paz e da diplomacia.
Quando o senador sugere que o TSE pode não suprir as vulnerabilidades apontadas, esquece que o tribunal pode simplesmente discordar do que os militares sugeriram. Isso não significa que o sistema seja inseguro, mas que o processo atual é suficiente para garantir a veracidade dos resultados.
E o pior: o Tribunal já até acatou algumas das sugestões das Forças Armadas.
Mas o pior vem agora. Além de amedrontar, Flávio Bolsonaro finge que seu pai não fazem nada contra a credibilidade do sistema eleitoral.
Quando perguntado sobre uma eventual reação violenta dos eleitores de Jair Bolsonaro caso o resultado das eleições seja desfavorável, o senador disse que a chance de seu pai incentivar algo do tipo não existe. “Algo incentivado pelo presidente Bolsonaro, a chance é zero”.
A frase não procede.
O presidente já vem incentivando reações negativas contra o sistema eleitoral há muitos meses. Antes mesmo de o período pré-eleitoral começar, Bolsonaro já tinha levantado dúvidas sobre a segurança das urnas, colocado seus eleitores contra as instituições e tentado construir uma narrativa de perseguição que só existe na cabeça dele.
A estratégia é uma só: se perder, o presidente poderá voltar nesse discurso e dizer que o resultado foi fraudado. O problema já foi criado, então a frase de Flávio Bolsonaro na entrevista é simplesmente mentirosa.
Em outro ponto, o jornalista Felipe Frazão pergunta qual será a posição do presidente – e do próprio senador – caso haja um levante contra o resultado das eleições. “Como a gente tem controle sobre isso?”, devolveu Flávio Bolsonaro.
É claro que o Presidente da República tem condições de acalmar a população. Acontece que o atual líder brasileiro não faz nenhum esforço para acalmar os seus eleitores, ou o de seus adversários. Pelo contrário, inflama seus apoiadores.
Quando não faz as ameaças diretamente, Jair Bolsonaro usa seus filhos para isso. A entrevista é assustadora porque mostra que os apoiadores do presidente vivem em outra realidade, sempre terceirizam a responsabilidade e acreditam que todas as suas ilusões precisam ser acatadas.