Não é segredo que o terceiro mandato presidencial de Lula conta com um Legislativo ainda mais complexo de negociar do que na primeira vez que assumiu o maior cargo do Executivo brasileiro. Em meio a tentativa de formar uma base sólida no Congresso Nacional para conseguir aprovar suas medidas, o presidente Lula encontrou mais um grande desafio: as exigências da bancada evangélica.
O jornalista Ranier Bragon revelou que os deputados da bancada, que possui cerca de 100 dos 513 congressistas, já começaram a rodada de ameaças contra as políticas de igualdade e inclusão adotadas pelo governo petista através de seus ministérios.
Entre os alvos, estão as portarias que promovem a equidade de gênero e raça no SUS; o enfrentamento da descriminação e violência contra religiões de matriz africana; a criação de cotas para negros no preenchimentos de cargos em comissões federais; o Programa Mulher Viver sem Violência e a proibição do exercício de atividades religiosas juntos aos povos indígenas.
Como é de conhecimento público, a bancada evangélica (historicamente) se coloca contrária a pautas que são defendidas pelos partidos de esquerda do Brasil, apelando para questões morais e religiosas. Desta vez, os congressistas afirmaram que Lula está tentando burlar o legislativo, governando por decretos e portarias.
Além disso, como era esperado, afirmam terem identificado normas que defendem o que eles chamam de “ideologia de gênero”, termo frequentemente utilizado para se referir a políticas de proteção a comunidade LGBTQIA+ ou que combatem a misoginia. O deputado federal pelo Tocantins, Eli Borges (PL) ainda completou afirmando que Lula estaria favorecendo as religiões de matriz africana e retirando a liberdade que possuem de se manifestarem a favor ou contra práticas religiosas divergentes.
De acordo com o jornalista, parte dos deputados se irritou com a portaria publicada pelo Ministério da Saúde contendo medidas para o “enfrentamento do machismo cultural, das formas de misoginia, sexismo discriminação étnico-racial, religiosa, geracional, orientação sexual e identidade de gênero ou quaisquer outras formas de preconceito”; e a “inclusão da temática da orientação sexual e identidade de gênero nos processos de educação permanente desenvolvidos pelo SUS”
Isso se chama “chantagem” parlamentar. E ela acontece em um momento onde Lula precisa conquistar a maior parte do Congresso se quiser pôr em prática seu plano de governo e aprovar medidas mais complexas, como o arcabouço fiscal. Assim, a posição do presidente é delicada. Ao mesmo tempo que precisa garantir o apoio dos deputados, não agradaria a sua base e eleitorado se voltasse atrás nessas medidas.
O desafio do presidente está apenas no início e como as pautas sociais são uma das maiores bandeiras do seu governo, sua habilidade de negociação será testada ao máximo para conseguir driblar essas exigências e cumprir suas promessas.