A dificuldade do PT para romper com a polarização
Presidente do partido critica medidas que, segundo ela, resultariam em rompimento com a base social da legenda
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, avaliou em entrevista ao jornal O Globo que o partido pode praticar um suicídio político se fizer um movimento em direção ao centro do espectro político. A análise de Gleisi é, em parte, consistente. Isso porque ela rechaçou medidas que fariam o partido perder suas bases e que têm potencial de prejudicar a população de baixa renda. Por outro lado, a avaliação da dirigente é reveladora da dificuldade que o PT tem para romper com a polarização política e, sobretudo, com as práticas que obstruem os bons resultados do governo, como já abordado por esta coluna.
“Diálogo político com o centro nós tivemos na campanha e ampliamos no governo. Já tentaram matar o PT e não conseguiram. Não podem pedir agora que o PT se suicide, rompendo com a base social que nos trouxe até aqui”, disse Gleisi, que está prestes a deixar a presidência da legenda após sete anos.
Gleisi listou as medidas que iriam contra os princípios de esquerda e que, segundo ela, permitiram ao PT ter uma base social: “Acabar com o aumento real do salário-mínimo, desvincular o mínimo da aposentadoria e dos benefícios sociais, mexer nos pisos da Saúde e da Educação”. Segundo Gleisi, “o que o mercado está pedindo é negar tudo aquilo que nós defendemos historicamente”, afirmou. E disse: “Não querem fazer a votação da reforma da renda para dar isenção a quem ganha até R$ 5 mil”.
Faz sentido, de fato, que o PT queira preservar suas bases e atuar pelos menos abastados. Não faz sentido, no entanto, o partido não construir alternativas para se manter vivo fora do ambiente de polarização, que tão mal faz ao Brasil.
O momento é de buscar a pacificação para recuperar o crescimento. Se manter vivo graças a um Fla x Flu entre esquerda e extrema direita só faz bem aos políticos que, graças a essa fórmula, conseguem manter seus mandatos. Não beneficia, no entanto, a democracia nem o sistema político brasileiro – e muito menos a população mais carente.
Após mais de 20 anos da primeira vitória de Lula, o PT ainda não conseguiu produzir outros líderes capazes de substitui-lo com a mesma liderança e representatividade. Tampouco conseguiu um modelo para construir bases institucionais fora do fisiologismo, que já resultou em tantos escândalos e entraves ao desenvolvimento nacional.
Essas são as dificuldades do PT que ficam expostas nas entrelinhas da entrevista de Gleisi.