O MDB apoiou o presidente Lula no segundo turno das eleições presidenciais com um convicto discurso antibolsonarista de Simone Tebet. Tanto a candidata quanto o partido – e isso é importante reforçar – diziam que era preciso derrotar as forças antidemocráticas.
Pois bem.
O problema é que agora, dois anos depois, o deputado Baleia Rossi mudou completamente o discurso. Em entrevista à jornalista Bianca Gomes, o presidente do MDB afirmou que vai fazer uma frente ampla em São Paulo, com Ricardo Nunes, seu correligionário, aceitando o apoio do PL.
Fala-se também na possibilidade de o MDB apoiar o deputado Alexandre Ramagem para a prefeitura do Rio de Janeiro, que é o indicado de Jair Bolsonaro. Aliás, é homem de Bolsonaro – inventado por ele e ninguém mais.
Não é possível que um partido seja contra Bolsonaro na eleição federal – tanto que participa da frente ampla por Lula e sua candidata a presidente tem ministério no governo -, mas se alie às forças apoiadas diretamente pelo ex-presidente em busca de prefeituras.
Essa contradição é insanável.
Baleia Rossi está dizendo que é a eleição mais importante do país. Entretanto, para ele… os assuntos municipais são apenas locais – nada a ver com o assunto federal.
Não é verdade.
Em São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, não vai dar para escapar da federalização. Apoiar qualquer candidato ligado a Bolsonaro é fortalecer a extrema-direita e as forças antidemocráticas que eles diziam combater há menos de dois anos.
Ou não?
PS – Para se ter uma ideia, se o MDB decidir por apoiar Ramagem no Rio em nova aliança com o PL, o MDB estará sob o comando de Carlos Bolsonaro, que preside o Partido Liberal no Rio. Haja contradição…
O QUE DIZ O MDB
Após a publicação do texto acima, a assessoria de imprensa do MDB enviou a carta abaixo à coluna,
Prezado colunista Matheus Leitão,
Respeitosamente, informamos que há erros de informação no texto publicado sob o título “A aliança contraditória entre o partido de Tebet e o de Bolsonaro”. Por favor, certifique-se e, se possível, considere fazer as devidas correções sublinhadas.
Ao contrário do afirmado na primeira linha do texto, o MDB não declarou apoio ao candidato Lula da Silva (PT) no segundo turno de 2022. O partido liberou os filiados para que votassem com sua consciência (veja nota divulgada à época no fim do texto).
É incorreta a afirmação de que o MDB ficará sob o comando de Carlos Bolsonaro caso o partido se coligue com o PL. O jornalista, que já conta com larga experiência, parece se esquecer que coligações não são fusões, e que os partidos são autônomos.
Não há nenhuma contradição quanto ao posicionamento do presidente Baleia Rossi nem de Simone Tebet. Em seus respectivos Estados, os dois apoiaram candidatos que fizeram aliança com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022.
No Mato Grosso do Sul, Simone apoiou o candidato e atual governador Eduardo Riedel (PSDB), que apoiou Bolsonaro e se coligou ao PL e ao PP. Isso não a impediu de fazer campanha por Lula, contando inclusive com a estrutura do MDB.
Em São Paulo, Baleia apoiou Tarcísio de Freitas (Republicanos), coligado com o PL. Em relação à disputa presidencial, Baleia Rossi não declarou apoio à Bolsonaro nem em 2018 nem 2022. Também não declarou a apoio a Lula.
Antes do primeiro turno de 2022, Lula antecipou seu apoio a Guilherme Boulos (PSOL) para a prefeitura de São Paulo, o que resultou na retirada de sua candidatura ao governo do Estado, abrindo espaço para o PSOL apoiar Fernando Haddad (PT).
Tal movimento político acabou por levar os partidos de direita (PL), centro-direita (PP, Republicanos), centro (PSD, Podemos, PSDB-Cidadania) e até mesmo de centro- esquerda (Solidariedade) a buscar um acordo político com Ricardo Nunes (MDB).
Nesse sentido, é errada a conclusão do parágrafo com a frase “não é possível que um partido (…) se alie às forças apoiadas diretamente pelo ex-presidente em busca de prefeituras”. Em São Paulo, é o PL que poderá apoiar o MDB, e não o contrário.
O MDB nasceu como partido de centro há 60 anos, e assim se mantém. Como partido de centro, a sigla mantém coligações com os polos. Isso não é incomum ao PT, que em 2012 fez coligação com PP de Paulo Maluf em São Paulo.
Outros exemplos que o jornalista deveria considerar são: em Salvador, o pré-candidato Geraldo Jr (MDB) terá o apoio do PT. Em Teresina, o pré-candidato Fabio Novo (PT) contará com o apoio do MDB.
Nos governos estaduais também há alianças com o PT. No Rio Grande do Norte, Walter Alves (MDB) é vice-governador de Fátima Bezerra (PT). No Ceará, Jade Romero (MDB) é vice-governadora de Elmano de Freitas (PT).
Em contrapartida, há exemplos também de alianças ao centro e também com a centro- direita. Em Goiás, Daniel Vilela (MDB) é vice-governador de Ronaldo Caiado (União Brasil). No Rio Grande do Sul, Gabriel Souza (MDB) é vice de Eduardo Leite (PSDB).
Tais dados poderiam ter sido apurados ou questionados à assessoria de imprensa do MDB ou ao deputado Baleia Rossi.
O jornalista também se equivoca quanto ao uso do termo “federalização”, que significa tornar um bem ou serviço do estadual como federal. O mais preciso é afirmar que poderá haver uma “polarização” da disputa nas capitais.
Quanto a isso, o especialista Felipe Nunes, autor do livro Biografia do Abismo, afirmou ao Valor que “a força dos prefeitos relativiza a polarização” e que “a gestão dos prefeitos” é terá peso na escolha dos leitores (texto de 16/01/2024).
Esse foi o ponto abordado pelo presidente Baleia Rossi na entrevista ao jornal O Globo, que o foco da campanha de Ricardo Nunes (MDB) será a gestão, e não a polarização.
O MDB afirma que a imprensa também é responsável por incentivar a polarização. O MDB, como sigla de centro, faz exatamente o contrário ao buscar a construção de consensos, seja à direita ou à esquerda.
RESPOSTA DA COLUNA
Este jornalista mantém as informações publicadas, discorda que a carta enviada pelo partido seja respeitosa e não se deixará intimidar.