A ‘ajuda’ que Adélio pode dar à campanha de Bolsonaro
Autor da violenta facada contra o presidente em 2018 pode ser solto no meio das eleições e dar munição ao bolsonarismo contra a Justiça e a esquerda
Em meio a um ano eleitoral que extrapolou a polarização política e já ficou marcado pelo assassinato de um petista por um bolsonarista, o nome de Adélio Bispo e a facada contra o atual presidente na campanha de 2018 foram ressuscitadas pela extrema-direita como contraponto ao crime em Foz do Iguaçu.
O próprio Jair Bolsonaro citou Adélio ao ser questionado sobre o assassinato do dirigente petista Marcelo Arruda pelo seu apoiador, Jorge Guaranho. Em sua resposta, usou politicamente – e de forma leviana – a violência que sofreu há quatro anos. Depois, a facada foi parar no competitivo jingle de campanha do presidente.
Nesse contexto – ou seja, em um quadro em que a violência, e não o diálogo, norteia a política brasileira – uma eventual soltura de Adélio Bispo tem sido vista por conselheiros de Bolsonaro como uma ajuda e tanto para a narrativa do presidente na campanha, seja contra o poder judiciário, seja contra, claro, a esquerda.
A coluna ouviu esse raciocínio de integrantes da campanha de reeleição de Bolsonaro após a convenção do PL, na qual o nome do presidente foi oficializado pelo partido como candidato.
Como se sabe, Adélio Bispo, o responsável pelo violento ataque contra Bolsonaro em setembro de 2018, passou por novo exame psiquiátrico nesta segunda-feira, 25. O procedimento visa apontar se ele tem condições – e as cartas reveladas por VEJA podem ajudar nisso – de retornar ao convívio social. Ou seja, falando claramente: ser solto e colocado novamente na arena política.
Os dois peritos que o avaliaram em uma carceragem federal de Campo Grande têm, agora, o prazo de 30 dias para terminar o laudo pericial e anexá-lo ao processo. Ou seja, se favorável a Adélio Bispo, o autor da facada em Bolsonaro pode ser libertado no ápice da campanha eleitoral, faltando pouco mais de um mês para o pleito.
Como também se sabe, Bolsonaro sempre foi crítico das incontestes investigações da Polícia Federal que, após anos de minuciosa apuração, consideraram corretamente Adélio Bispo inimputável, e descartaram a existência de um mandante. Por questões de saúde mental, Adélio também não pode ser condenado pelo crime que cometeu contra o presidente.
O presidente usaria uma eventual decisão de soltura na campanha para não só contrapor o assassinato de Foz do Iguaçu com a facada, como também para criticar a “justiça no Brasil”, aumentando inclusive a carga até sobre o Supremo Tribunal Federal, que não tem nada a ver com o caso de Adélio. Seria um claro malabarismo político, típico do mandatário.
A decisão final – após a perícia dos dois técnicos – ficará a cargo da 5ª Vara Federal Criminal na capital sul-mato-grossense. É aguardar para ver se o judiciário dará munição para o uso político do caso Adélio Bispo por Jair Bolsonaro, agora na versão 2022, e a dias das urnas serem abertas para o povo brasileiro escolher seu novo presidente.