Saiba por quais crimes Bolsonaro deve ser enquadrado na CPI da Covid
Renan Calheiros se recusa a adiantar o que pretende incluir em seu relatório, mas admite que será difícil o presidente sair ileso
Do Palácio do Planalto à militância da esquerda mais fervorosa, ninguém acredita que a CPI da Covid chegará ao fim sem disparar um torpedo de grande porte contra Jair Bolsonaro. A comissão tem tido uma audiência recorde e vem rendendo uma grande briga nos bastidores entre os aliados do presidente e Lula, ambos de olho na repercussão dos depoimentos em suas respectivas campanhas para 2022. O relator do colegiado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), não nega nem desmente o que todos suspeitam, mas a chance de o presidente da República sair ileso da CPI tangencia zero.
“O presidente Jair Bolsonaro continua fazendo as mesmas coisas todos os dias. É muito difícil não responsabilizá-lo”, se limita a dizer Renan. O relator não entrega em hipótese nenhuma de que forma o capitão pode ser enquadrado em seu parecer. VEJA apurou, no entanto, que, a preço de hoje, Bolsonaro deve ser responsabilizado por dois crimes: sanitário e contra a vida.
Antes mesmo de se aproximar dos últimos capítulos de sua atuação na comissão, Renan já tirou o clã Bolsonaro do sério. Aliados do presidente entregam que ele vai à loucura quando o relator compara a pandemia no Brasil ao holocausto, como ocorreu na sessão de terça, 25. Mas se a ira presidencial fica restrita aos limites palacianos, a explosão de Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) se deu em rede nacional. Durante o depoimento do ex-secretário de Comunicação do governo, Fabio Wajngarten, ele chamou Renan de “vagabundo”.
“A parte negativa da grande exposição dessa CPI, que te empurra para a mira do exército bolsonarista, eu já tinha. Esses caras me perseguem há tempos”, pormenoriza o cacique emedebista, que, embora não admita, sonha em voltar à presidência do Senado, posto que ocupou em quatro ocasiões.
De fato, o sucesso de audiência da comissão só tem trazido ganhos a Renan, que viu os números de suas redes sociais explodirem desde a instalação do colegiado, no mês passado. De acordo com um levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (Dapp) da FGV sobre os impactos dos trabalhos da CPI no Twitter, feito a pedido de VEJA. Renan saiu de uma comunicação semi-analógica para registrar mais de 5000 interações com seu perfil na semana do dia 16 de
maio.
A conectividade tem sido também uma arma secreta para os participantes desta CPI. Várias excelências estão em contato permanente com redes de voluntários, via grupos de Whatsapp, por onde chegam informações valiosas em tempo real sobre o que acontece durante as sessões. Por valiosas, leem-se dados sobre saúde pública e a pandemia no Brasil, checagens de contradições cometidas durante os depoimentos ao colegiado e até documentos oficiais. Os assessores de Renan, por exemplo, participam de um grupo alimentado por historiadores, estudantes universitários e outros anônimos dispostos a contribuir com a CPI.