Relato de propina por delator do PCC derruba diretor do Deic em SP
Fábio Pinheiro Lopes, que chefiava um dos principais departamentos da polícia, foi acusado por Antonio Gritzbach, morto a tiros no aeroporto de Guarulhos

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo determinou nesta sexta-feira, 20, o afastamento dos delegados Fábio Pinheiro Lopes, conhecido como Fábio Caipira, diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) — um dos principais órgãos da polícia paulista —, e Murilo Fonseca Roque, do 3° Distrito Policial de São Bernardo do Campo. Os dois foram citados na delação do empresário Antonio Vinícius Gritzbach pouco antes de ser assassinado a tiros no aeroporto de Guarulhos, em novembro passado — sua delação também envolveu a facção criminosa PCC.
Ao Ministério Público, Gritzbach relatou que os dois policiais e o deputado estadual Delegado Olim (PP) teriam recebido propina, no valor de 4,2 milhões de reais, para que ele tivesse ajuda na restituição de seu passaporte, que havia sido apreendido, e de bens bloqueados durante uma investigação sobre lavagem de dinheiro da qual era alvo, além da garantia de que responderia o processo em liberdade.
Em nota, o deputado Delegado Olim repudiou a citação a seu nome e negou ter tido qualquer relação com o delator. “Não conheço, nunca estive ou recebi pessoalmente o senhor Vinicius Gritzbach. Não mantive qualquer contato próximo ou imediato com essa pessoa. Nunca intermediei ou atuei pela gestão de procedimentos judiciais ou extrajudiciais a respeito dele, que só soube existir quando do seu homicídio, publicamente divulgado, no aeroporto de Guarulhos”, afirmou. A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Fábio Pinheiro Lopes e de Murilo Fonseca Roque.
Em nota, a SSP informou também que, além dos dois delegados afastados, a delegada Rosemeire Monteiro de Francisco Ibanez solicitou o desligamento da Corregedoria da Polícia Civil e se colocou à disposição da instituição para seguir em outro setor, o que deve ocorrer na próxima semana. Rosemeire Monteiro foi citada por Gritzbach quando ele descrevia infrações que teriam sido cometidas pelo investigador da Polícia Civil Eduardo Lopes Monteiro, sobrinho da corregedora. Em troca de mensagens obtidas pelos investigadores, Monteiro se gaba de cometer infrações sem ser punido e atribui isso ao grau de parentesco com a corregedora.
Segundo relatório da Polícia Federal, o policial pode ter se beneficiado dessa relação. “De fato, o investigado EDUARDO LOPES MONTEIRO pode ter algum privilégio na corporação policial pelo parentesco com a atual chefe da Corregedoria Geral da Polícia Civil, como também pode existir o envolvimento de outros policiais compondo uma organização criminosa no seio da instituição policial, em especial na DELEGACIA DE REPRESSÃO A HOMICÍDIOS MÚLTIPLOS (DHPP)”, diz trecho do relatório.
Na delação, Gritzbach relatou diversas ocasiões em que Eduardo Monteiro teria recebido dezenas de milhões de reais em propinas para libertar e não indiciar criminosos. O empresário relatou que ele mesmo foi extorquido por Monteiro e outros dois policiais, Fabio Baena e Rogério de Almeida Felício, após ser preso em 2022, por suspeita de envolvimento no assassinato de dois integrantes do PCC. Griztbach afirmou que os três policiais o forçaram a entregar a eles um sítio no valor de 1,5 milhão de reais, além de não devolverem relógios de alto padrão que haviam sido apreendidos.
Com ajuda do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), a PF identificou uma movimentação atípica nas contas do policial. Segundo os investigadores, embora tenha um salário bruto de quase 12.000 reais, Monteiro é sócio de três empresas, uma de construção e incorporação, uma concessionária de veículos e uma clínica médica em sociedade com a esposa. Monteiro foi um dos quatro policiais presos na terça-feira, 17, sob suspeita de elo com o PCC.