Prevent Senior pede que PGR investigue denúncias contra a empresa
Plano de saúde diz que dados de uma planilha interna foram manipulados para acusar a companhia de ocultar número de óbitos em estudo sobre a Covid-19

Nesta segunda, 20, a Prevent Senior entrou com um requerimento na Procuradoria Geral da República reclamando ser vítima de uma armação e pedindo uma investigação a respeito das recentes e gravíssimas denúncias que atingiram o plano de saúde. Na peça encaminhada à PGR, a companhia tenta refutar os pontos principais de uma reportagem divulgada pela Globonews na semana passada. Segundo essa reportagem, a empresa teria manipulado dados de um estudo sobre tratamento de Covid à base de hidroxocloroquina e azitromicina, reduzindo propositalmente o número de óbitos. O objetivo da manipulação seria produzir um resultado favorável à eficácia de tais medicamentos no combate à doença. Um dos principais pontos da acusação é o de que não foram computadas todas as mortes ocorridas. Enquanto o estudo cita duas ocorrências fatais, o número total seria bem maior: nove.
A reportagem da Globonews lembra que, dias após a divulgação dos resultados da pesquisa, o presidente Jair Bolsonaro, um dos maiores garotos-propagandas dos supostos efeitos milagrosos desses remédios, elogiou nas redes sociais a iniciativa da Prevent Senior. De acordo com a Globonews, a reportagem da emissora foi produzida com base em um dossiê elaborado por médicos e ex-médicos da Prevent Senior. Esse mesmo dossiê foi encaminhado à CPI da pandemia, que deve ouvir na quarta, 22, o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista Júnior. O depoimento estava marcado para ser realizado na quinta passada, 16, mas o executivo alegou que havia sido convocado em cima da hora, sem ter tempo hábil de se preparar para a viagem até Brasília.
A Prevent Senior já estava na mira da CPI pelo uso intensivo dos medicamentos sem eficácia científica comprovada contra a Covid-19 e suposta ligação da empresa com o chamado “gabinete paralelo”, organização que aconselhava Bolsonaro a respeito de medidas a serem tomadas durante a pandemia, muitas vezes, à revelia do corpo técnico e dos titulares do Ministério da Saúde. As denúncias recentes a respeito de manipulação de dados de um estudo esquentaram ainda mais o interesse em torno do depoimento do executivo da Prevent Senior.
Na peça encaminhada à PGR, a Prevent Senior sustenta que dois médicos, o casal George Joppert e Andressa Hernandes, manipularam dados de uma planilha interna para tentar comprometer a companhia. Segundo o requerimento, esses profissionais, “então já desligados da Operadora, passaram a acessar e editar referido arquivo, culminando no compartilhamento do arquivo com a advogada BRUNA MORATO em 28 de agosto de 2021, pouco dias antes da divulgação na mídia”.
A Prevent Senior continua sustentando que divulgou os dados corretos: seriam mesmo apenas duas mortes no universo do estudo que considera o monitoramento de pacientes entre 26 de março e 4 de abril de 2020, sendo uma de uma pessoa com síndrome coronária aguda e outra por câncer. A respeito das sete mortes que não teriam sido computadas, a Prevent Senior diz que elas ocorreram em período posterior à divulgação da pesquisa. Dessa forma, alega a empresa, não houve por parte da companhia qualquer fraude no estudo. Dentro da mesma lógica, a manipulação de dados teria ocorrido, sim, mas por iniciativa de ex-funcionários para prejudicar a imagem do plano de saúde.
No requerimento enviado à PGR, a Prevent Senior nega ainda que faça parte de qualquer “gabinete paralelo”, refuta a acusação de que teria receitado hidroxocloroquina sem o conhecimento dos pacientes e lança suspeitas de chantagem. No dia 5 de agosto, o advogado Vitor Magnani que representava um ex-funcionária em uma causa trabalhista e cuidava também de caso de suposto assédio cometido por um médico da empresa ofereceu à companhia “uma proposta de acordo no valor aproximado de R$ 3.500.000,00 (três milhões e meio de reais) com a anotação de que se pretendia ‘evitar litígios e outros danos de repercussão à empresa’. No dia 9 de setembro, porém, ainda de acordo com o relato da Prevent Senior enviado à PGR, Magnani “encaminha email alegando que não tinha mais intenção de firmar um acordo trabalhista e não mais trataria do caso do assédio (que ainda era nebuloso), o que ficaria a cargo da advogada BRUNA MORATO, a mesma que, um mês antes, havia ameaçado o jurídico da empresa de levar denúncias contra a empresa à CPI da Pandemia”.
Não é a primeira vez que o estudo da Prevent Senior a respeito de tratamentos com hidroxocloroquina e azitromicina contra a Covid provoca polêmica. Pouco depois da sua divulgação do tal estudo, por uma série de falhas técnicas e omissões, o trabalho foi cancelado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. A empresa não recorreu da decisão. Mesmo depois desse episódio e quando já havia pesquisas sérias descartando o uso da cloroquina, o plano de saúde continuou usando o medicamento. A rede prescrevia a droga para qualquer pessoa que relatasse sintomas de Covid-19 em teleconsultas feitas por celular todo mês. Uma caixinha do remédio e algumas vitaminas eram enviadas à casa dos pacientes. Em agosto de 2020, em entrevista à VEJA, o diretor da rede continuava insistindo na eficácia da droga. “Entre os dias zero e três da contaminação, a cloroquina evita a internação em 95% dos caos”, garantia Pedro Benedito Batista Jr.
A Prevent Senior, no entanto, não envia mais o “kit cloroquina” para seus associados. De acordo com a empresa, não há mais restrições de circulação de pessoas que justifiquem o “delivery”. Em questionamento enviado por VEJA sobre se o plano continua prescrevendo hidroxocloroquina e azitrocimina nos tratamentos contra a Covid, a companhia respondeu o seguinte: “Todos os médicos da Prevent Senior têm autonomia para prescrever, no âmbito da relação individual com cada paciente, os tratamentos que julguem necessários. A Prevent Senior, enquanto operadora de saúde, não interfere nesta relação médico-paciente”.