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PF conclui inquérito sobre fraudes bancárias de hackers da Vaza-Jato

Investigação é desdobramento da Operação Spoofing, que prendeu os responsáveis por invadir o Telegram de agentes da Lava-Jato e divulgar as mensagens

Por Reynaldo Turollo Jr. Atualizado em 30 ago 2022, 18h05 - Publicado em 30 ago 2022, 14h58
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    A Polícia Federal concluiu na última quarta-feira, 24, um inquérito que investigou fraudes bancárias supostamente cometidas pelos hackers que invadiram o Telegram de agentes da Operação Lava-Jato — no caso que ficou conhecido como Vaza-Jato. O inquérito é um desdobramento da Operação Spoofing, que identificou e prendeu os hackers em 2019, e corre na Justiça Federal em Brasília. Depois de três anos de suspeitas de que o grupo praticava fraudes bancárias nos meios digitais, a PF concluiu o caso sem indiciar os investigados.

    Não é a primeira vez que os hackers se livram de acusações. Como VEJA noticiou em maio, um outro inquérito, que também era um desdobramento da Spoofing, aberto para investigar se eles agiram a mando de alguém, concluiu que o grupo não teve mandantes nem recebeu pagamentos para invadir o Telegram de autoridades e divulgar as mensagens da força-tarefa de Curitiba.

    Paralelamente a esses dois inquéritos, os hackers são réus em uma ação penal que tramita na 10ª Vara Federal em Brasília. Nesse processo eles respondem propriamente pela invasão do aplicativo de mensagens e pela interceptação das conversas de várias autoridades, incluindo o ex-procurador Deltan Dallagnol e o ex-juiz Sergio Moro, que hoje são candidatos a deputado e a senador, respectivamente. As partes já apresentaram suas alegações finais — em que pedem, entre outras coisas, a anulação do processo — e agora aguardam a sentença do juiz.

    No caso das fraudes bancárias, a apuração começou a partir da delação de um dos cinco presos pelo hackeamento do Telegram, o ex-DJ Gustavo Henrique Elias Santos, de Araraquara (SP). A PF abriu seis linhas de investigação sobre fraudes que teriam sido praticadas com a ajuda de gerentes e funcionários de bancos localizados em diferentes cidades de São Paulo, em Maringá (PR) e em Brasília. Uma das linhas de investigação envolvia outros dois réus na Spoofing, Walter Delgatti Neto — o hacker mais famoso do grupo, morador de Araraquara — e Thiago Eliezer Martins Santos, de Brasília.

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    A PF concluiu, no entanto, que nenhuma das fraudes bancárias que aparentemente se consumaram foi praticada em Brasília, onde a investigação estava sendo feita, e que a maioria delas não chegou a se efetivar — em um dos casos, por exemplo, o funcionário de um banco disse a Elias Santos, segundo mensagens apreendidas, que não poderia ajudá-lo na execução do crime porque chamaria atenção internamente. O relatório não traz indícios de crimes de Delgatti e Martins Santos. Assim, o inquérito foi encerrado sem nenhum indiciamento.

    “Verifico que o presente inquérito deveria tramitar em uma das Varas Criminais da Seção Judiciária de São Paulo/SP, local onde ocorreu a maior parte dos atos criminosos listados nos relatórios citados e onde reside a maioria dos investigados. A tramitação dessa investigação no âmbito da Superintendência Regional da Polícia Federal no Distrito Federal causaria atrasos na investigação, pois os fatos não ocorreram na circunscrição da unidade e seria necessário lançar mão de meios trabalhosos para realizar todas as diligências”, escreveu o delegado da PF João Thiago Pinho.

    O relatório final será apreciado pelo Ministério Público Federal e pela 12ª Vara Federal em Brasília, que decidirá pelo arquivamento do caso ou por seu envio para São Paulo, onde as apurações teriam de recomeçar.

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    O advogado Thyago Rodrigues Queiroz, que representa Walter Delgatti Neto, disse em nota que certamente o encerramento desse inquérito vai impactar o julgamento da ação penal sobre a invasão do Telegram. “O cenário atual demonstra que não há uma organização criminosa entre os denunciados na Operação Spoofing, seja no envolvimento por fraudes bancárias, seja pela denúncia de hackeamento das autoridades”, afirmou. O advogado Ariovaldo Moreira, que defende o ex-DJ Gustavo Elias Santos, disse que, “em que pese a delação dele ter sido homologada, a defesa tinha conhecimento de que as fraudes por ele narradas não chegariam a qualquer conclusão, porque ele se declarava inocente”.

    A defesa de Thiago Eliezer Martins Santos afirmou em nota que, “mesmo após quase três anos de investigação, nada foi colhido em desfavor dele, evidenciando que o inquérito foi utilizado para fundamentar medidas cautelares ilegais”, como a que o proíbe de acessar a internet. “A defesa tomará as medidas cabíveis para cessar as ilegalidades, haja vista que Thiago foi massacrado e rotulado de fraudador e líder de organização criminosa, sendo que os inquéritos desmembrados da Spoofing foram concluídos sem indiciamento”, disseram os advogados Luis Gustavo Delgado Barros e Fabrício Martins Chaves Lucas.

    Há duas semanas, reportagem de VEJA revelou que Delgatti esteve no Palácio da Alvorada para uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro (PL) fora da agenda oficial. O encontro foi promovido pela deputada Carla Zambelli (PL-SP), que procurou o hacker para tratar sobre possibilidades de fraudes nas urnas eletrônicas. Uma das ideias aventadas foi a de usar Delgatti como peça de marketing, para que ele declarasse publicamente que as urnas podem ser invadidas, o que tumultuaria o processo eleitoral.

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