Pesquisas mostram que, dividida, terceira via não irá a lugar nenhum
Levantamentos do Datafolha, Ipec e MDA apontam que centro democrático ainda tem espaço para ir ao segundo turno, mas fragmentação é um grande obstáculo
As pesquisas divulgadas por alguns dos principais institutos nesta semana mostram uma realidade dura, mas não surpreendente, para a chamada terceira via na eleição presidencial: uma candidatura única do centro democrático é a melhor alternativa para vencer a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Nos levantamentos feitos pelo Datafolha, Ipec (instituto criado por ex-executivos do Ibope) e MDA, em parceria com a CNT (Confederação Nacional dos Transportes), fica claro que as chances de uma terceira candidatura só existem se houver menos candidatos de centro.
No Datafolha, por exemplo, as candidaturas de Sergio Moro (Podemos), com 9%, Ciro Gomes (PDT), com 7%, João Doria (PSDB), com 3%, e os demais postulantes – Simone Tebet (MDB), Rodrigo Pacheco (PSD), Alessandro Vieira e Luiz Felipe Dávila (Novo) somam 21%, exatamente o mesmo percentual que tem Bolsonaro – Lula lidera com folga, com 47%.
No Ipec, o cenário não é muito diferente: os candidatos de centro somam 17%, contra os mesmos 21% de Bolsonaro e 48% de Lula. Na sondagem CNT/MDA, a situação para o centro é ainda pior: somam 16,3% contra 25,6% de Bolsonaro e 42,8% de Lula.
Nos três cenários, a soma de todos os rivais não seria suficiente para impedir a vitória de Lula no primeiro turno. Embora o petista ainda possa derreter ao longo da campanha, haja vista o tamanho do telhado de vidro que tem para ser explorado, hoje é mais fácil imaginar que o centro só poderia chegar ao segundo turno no lugar de Bolsonaro.
Uma má notícia para esse bloco de centro é que os lançamentos oficiais das pré-candidaturas de Moro e Doria não surtiram o efeito desejado. Esperava-se que, com toda a cobertura que tiveram, a filiação do ex-juiz ao Podemos e a vitória do governador de São Paulo nas prévias tucanas alavancassem, nem que fosse momentaneamente, os seus nomes na corrida presidencial, mas isso não aconteceu.
Moro, por exemplo, cravou de 6% a 9%, dependendo do instituto, percentual que é inferior ao que o ex-juiz ostentava lá atrás, quando seu nome era especulado, mas ele não confirmava se seria ou não pré-candidato. O Paraná Pesquisas, o instituto que há mais tempo monitora a atual corrida presidencial, mostrou Moro com 11,5% das intenções de voto em março de 2021, quando Lula ainda não estava no páreo – o candidato petista era Fernando Haddad, que tinha 10,5%.
Já Doria, em que pese o tamanho do estado que governa e as coisas positivas que tem a mostrar na sua gestão – do bom desempenho da economia e das finanças do estado ao esforço pela vacina contra a Covid-19 –, também não consegue sair da casa dos 5%.
Ciro Gomes, que também pontuava na casa dos dois dígitos antes da entrada de Lula na disputa, agora gravita em torno de 6%, mesmo após ter contratado o marqueteiro João Santana, guru da estratégia eleitoral de vitoriosas campanhas petistas de Lula e Dilma.
É claro que ainda é cedo – faltam mais de dez meses para a eleição e muita coisa ainda pode acontecer. Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, lembrou, ao comentar a pesquisa mais recente do seu instituto, que as últimas eleições presidenciais foram definidas por imprevistos, como o acidente que matou Eduardo Campos (PSB) em 2014, a prisão de Lula antes da eleição de 2018 e atentado sofrido por Bolsonaro na mesma disputa. “Se nem na véspera da eleição é possível prever resultados, quem dirá dez meses antes. O processo eleitoral é dinâmico, todas as variáveis são passíveis de mudanças e o imponderável foi decisivo nos últimos pleitos”, alertou.
Há conversas entre alguns candidatos de centro para tentar um acordo para 2022, principalmente entre Moro e Doria, já que Ciro corre numa raia bastante particular – abatido pela operação da Polícia Federal na semana passada, ele vive o seu pior momento na campanha, como mostra reportagem de VEJA na edição desta semana.
Há um gigante partidário de centro, o União Brasil, que terá quase 900 milhões de reais de Fundo Eleitoral em 2022, negociando com candidatos o seu apoio, o que, de alguma forma, poderá influenciar a disputa. O PSD de Gilberto Kassab, que também tem bala na agulha para a eleição, está por ora com Pacheco, mas pode compor com algum partido de centro.
Outro fator que poderá contribuir seria um provável derretimento de Bolsonaro, sufocado pelas próprias crises que provoca, além do desafiador cenário econômico, para o qual parece ter cada vez menos respostas. Se ele continuar perdendo eleitores, como vem acontecendo, pode vitaminar alguma candidatura mais moderada, uma vez que é improvável que a maioria dos seus eleitores migre para Lula.
Um dificultador, no entanto, segundo a pesquisa Datafolha, são os altos percentuais de eleitores comprometidos com Lula e Bolsonaro – o petista tem 32% no levantamento espontâneo (quando nenhum nome de candidato é apresentado), enquanto o presidente tem 18%. Dos postulantes de centro, o mais bem colocado é Moro, com meros 2%. Nada, claro, que uma boa campanha eleitoral não possa mudar.
O início de 2022 será, porém, o momento para que as candidaturas de centro definam como pretendem se apresentar para enfrentar Lula e Bolsonaro. Divididos, por ora, não parece ser a melhor opção.