A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) emitiu nota, nesta sexta-feira, 1, criticando duramente a postura do presidente Jair Bolsonaro em um evento realizado na quinta em Belo Horizonte, no qual posou empunhando uma réplica de um fuzil ao lado de uma criança.
A entidade afirma que arma não é brinquedo e lamenta que cenas como essa tenham se tornado frequentes. “Não se trata de uma discussão ideológica ou sobre a liberdade da posse, ou não, de arma pelos adultos. O que está em jogo é a vida e a integridade física e emocional de milhares de crianças e adolescentes. Por isso, os pediatras conclamam as autoridades para uma profunda reflexão sobre os efeitos destas ações de mídia e de marketing, que devem se basear na legislação e na ética, e nunca serem maiores que o compromisso com a dignidade da população brasileira”, afirma.
O texto invoca o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que, segundo a entidade médica, garante à criança e ao adolescente o direito ao respeito, “que consiste na inviolabilidade da sua integridade física, psíquica e moral, abrangendo, entre outros aspectos, a preservação de sua imagem e valores”. “A Sociedade Brasileira de Pediatria reitera a importância de a população, em especial autoridades e personalidades públicas, respeitarem a legislação que exige a proteção dos direitos dessa faixa etária.”
Segundo a entidade, estudos mostram que, diferentemente dos adultos, crianças são incapazes de distinguir entre uma arma real e armas de brinquedo, como revelou uma pesquisa recente em que quase 60% dos integrantes de um grupo de crianças com idades entre 7 e 17 anos
não souberam diferenciar armas reais das de brinquedo. “Não é por acaso que a cada 60 minutos uma criança ou adolescente morre em decorrência de ferimentos por arma de fogo no Brasil”, destaca o órgão.
No evento transmitido pela TV Brasil, em comemoração aos 1 000 dias de governo, o público gritou em coro, após Bolsonaro empunhar a arma: “O povo armado jamais será escravo”. Em seguida, o presidente disse agradecer aos pais da criança por ela estar servindo de “exemplo de civilidade e patriotismo”. “Eu estou com quase 70 anos. Quando eu era moleque, eu brincava com isso, com arma, com flecha, com estilingue. Assim foi criada a minha geração, e crescemos homens fortes, sadios e respeitadores”, declarou.
Levantamento da SBP feito em 2019 com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, referentes a 2016, mostrou que naquele ano, a cada 60 minutos, uma criança ou adolescente morreu em decorrência de ferimentos por arma de fogo. Em duas décadas, morreram mais de 145 000 jovens, com idades entre zero e 19 anos, por causa de disparos, acidentais ou intencionais, de acordo com o mesmo levantamento.