‘Pato manco’ e ‘freguês’: as provocações no embate entre Lira e Renan
Caciques alagoanos entraram em rota de colisão precocemente em 2022, por causa de eleição indireta ao governo do estado
Antes de se verem em palanques opostos nas eleições presidencial e alagoana de outubro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) entraram em rota de colisão precocemente neste ano. A largada foi queimada pela eleição indireta ao governo de Alagoas, que deflagrou um tiroteio antecipado entre eles, como mostra reportagem de VEJA desta semana. A disputa na Assembleia Legislativa alagoana foi apimentada por contornos nacionais, incluindo intervenção do Supremo Tribunal Federal (STF), que analisou e negou pedidos do PP de Lira para suspender a eleição, marcada para este domingo, 15, que elegeu Paulo Dantas (MDB).
Pelo lado de Renan, aliado de Dantas, avalia-se que o grupo de Arthur Lira não tem interesse na eleição porque sabe que seria derrotado e tenta ganhar tempo para diminuir a exposição de Dantas como governador. Ele será candidato ao posto em outubro e, pela lei eleitoral, não poderia inaugurar obras públicas deixadas pelo ex-governador Renan Filho (MDB) nos três meses que antecedem o pleito. Renan fala em “golpe” de Lira. Por outro lado, apontando uma quebra de acordo com ele por parte de Paulo Dantas, seu ex-aliado, Arthur Lira alega que a forma como a eleição indireta foi construída é inconstitucional, um jogo de cartas marcadas, e que o grupo político encabeçado pelos Calheiros quer explorar o governo eleitoralmente.
Fora a eleição propriamente dita, a rinha de caciques alagoanos inclui também trocas de provocações curiosas. Ao falarem com VEJA nesta semana, tanto Renan Calheiros quanto Arthur Lira lançaram ironias contra o desafeto. “Nas duas últimas eleições, Arthur teve o pai (o ex-senador Benedito de Lira) como candidato e o pai perdeu as duas. Ele quer ver como judicializa, como dificulta, porque é freguês”, diz Renan. O presidente da Câmara não se faz de rogado. “Para mim, Renan é um pato manco em Brasília. O mandato dele não contribui em nada com Alagoas, vive à sombra do filho, que vive de um governo que não é real”, rebate. “Renan nunca mais será presidente do Senado e quer ter projeção discutindo com o presidente da Câmara”, afirma.
Convocada após a renúncia de Renan Filho para concorrer ao Senado, diante do fato de Alagoas não ter um vice-governador, que deixou o posto em 2020 para ser prefeito, a disputa-tampão é um aperitivo do que virá no embate entre os grupos de Renan Calheiros e Arthur Lira em outubro. Lira é candidato a uma bem-encaminhada reeleição, Renan deve ver o filho ser eleito a uma cadeira a seu lado no Senado e os dois trabalharão por seus candidatos a governador: os Calheiros com Dantas, e Lira com o senador Rodrigo Cunha (União Brasil).
Fora do plano local, os dois caciques podem ter em Brasília outro campo de conflito, onde certamente serão peças-chave na renovação de poder no Legislativo. Arthur Lira pretende continuar dando as cartas na Câmara em 2023 e já afirmou a aliados que sua recondução ao comando da Casa não está atrelada à sorte de Bolsonaro em outubro. Estreante na oposição após décadas de governismo, Renan vê o Senado como contraponto a uma Câmara avaliada por ele como bolsonarista sob Lira e deve se manter como um opositor ferrenho do capitão em caso de reeleição. Aliado de Lula, Renan tem trabalhado pelo petista dentro e fora do MDB. Caso o ex-presidente volte ao Planalto, no entanto, o emedebista diz que não disputaria a presidência do Senado, posição que já ocupou quatro vezes. Ele desconversa sobre ser ministro.