Beneficiados pela alta da arrecadação, em razão da retomada da economia e da inflação de quase 9%, e por verbas extras vindas da privatização de empresas estatais, governadores de alguns dos principais estados vão chegar a 2022 com dinheiro em caixa para investir em obras, um instrumento importante na luta pelo voto do eleitor.
O cenário de bonança vai à contramão do que aconteceu em 2021, quando os efeitos da pandemia ainda atingiram fortemente a arrecadação dos estados. A maioria deles teve queda nas receitas e, entre os que registraram aumento, a alta foi quase irrelevante (veja quadro abaixo).
Disposto a dar um salto mais alto no trampolim político para chegar à Presidência da República, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), por exemplo, já viu o estado ter entre janeiro e julho deste ano um aumento de 16% nas receitas na comparação com o mesmo período do ano passado — para 2022, a projeção é uma alta de 14%. O tucano pretende terminar o ano que vem com nada menos que 36 bilhões de reais injetados na economia por meio de investimentos privados e estrangeiros.
No Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL) tem receita prevista de 69 bilhões de reais para o ano que vem, 28% a mais que 2021. Para os próximos três anos, o governador anunciou um pacote de 17 bilhões de reais em obras, sendo que 10 bilhões de reais virão da privatização da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos).
Já Minas Gerais projeta um aumento ainda maior da arrecadação em 2022 — alta de 14%. Além disso, o governador Romeu Zema (Novo) terá 11 bilhões de reais extras em razão de um acordo firmado com a mineradora Vale por causa do acidente envolvendo o rompimento da barragem de Brumadinho em 2019 — a quantia deve ser utilizada até o final deste ano.
O governador Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul, que também pretende disputar a Presidência da República, deve arrecadar 48 bilhões, valor que ainda vai ser inflado com 1,3 bilhão de reais oriundos de um projeto de privatização que será destinado a obras viárias.
Reportagem de VEJA desta semana mostra que essa quase bonança vai tornar os governadores protagonistas do processo eleitoral em 2022. Dinheiro em caixa é sempre bem-vindo, principalmente quando ele é utilizado de forma que traga benefícios à população. Em ano eleitoral, porém, que essas verbas extras sejam usadas de forma responsável e os governadores não caiam na tentação de usá-las para medidas populistas com o único objetivo de obter popularidade e ganhos eleitorais.