O que o hacker já revelou sobre a invasão ao Conselho Nacional de Justiça
Carla Zambelli e Walter Delgatti Neto foram indiciados pela PF por inserir documentos falsos nos sistemas do Judiciário
Uma série de reportagens de VEJA assinadas pelo jornalista Reynaldo Turollo Jr. e publicadas entre 2022 e 2023 revelou detalhes da parceria firmada entre o hacker Walter Delgatti Netto e a deputada federal Carla Zambelli tendo como objetivo principal usar a expertise do criminoso digital para atacar a credibilidade do sistema eletrônico de votação. Uma das ações confessadas pelo hacker foi a invasão dos sistemas eletrônicos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para colocar no ar falsos documentos a respeito de Alexandre de Moraes, ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na quinta 29, após mais de um ano de investigação, Zambelli e Delgatti foram indiciados pela Polícia Federal pela violação do banco de dados do Judiciário.
O episódio da invasão do CNJ aconteceu em 4 de janeiro do ano passado, ou seja, poucos dias antes dos atentados de 8 de janeiro em Brasília. Um dos documentos fictícios inseridos nas redes era uma ordem de prisão de Moraes assinada pelo próprio ministro. À época, VEJA obteve acesso ao material e revelou que o conteúdo era um texto tipicamente bolsonarista, no qual o presidente do TSE se autoproclamava “um deus do olimpo” e finalizava com “publique-se, intime-se e faz o L”.
Ataques às eleições
Este é apenas um na longa lista de ações que a dupla teria praticado na tentativa de constranger Moraes e minar a credibilidade das urnas. Em agosto de 2022, Delgatti chegou a se reunir com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) no Palácio da Alvorada, em encontro fora da agenda articulado por Zambelli e também flagrado por VEJA. Logo em seguida, Delgatti foi encaminhado ao Ministério da Defesa para se unir ao grupo da pasta que participava de discussões com a equipe do TSE a respeito da segurança das urnas eletrônicas. O hacker também revelou que, em diversas ocasiões, ele teria discutido a possibilidade de forjar falhas de segurança nesses equipamentos.
Outra suspeita, que foi antecipada por VEJA e confirmada por Delgatti em depoimento à CPMI do 8 de janeiro, envolve o plano de grampear as comunicações de Moraes em busca de qualquer mensagem embaraçosa que pudesse ser vazada para comprometer a integridade do ministro. Segundo o hacker, em uma das reuniões, Zambelli e Bolsonaro teriam proposto que ele assumisse a autoria de uma escuta ilícita sob garantia de que, em suas próprias palavras, “sua barra seria limpa” posteriormente.