O polêmico encontro entre Bolsonaro e o embaixador de Israel
Reunião 'surpresa' teve exibição de fotos dos ataques dos Hamas a israelenses; PT diz que diplomata se 'intrometeu indevidamente' em política interna
O encontro entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, tem gerado mal-estar entre integrantes e aliados do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Nesta quinta-feira, 9, a presidente do PT, Gleisi Hoffman, afirmou que o diplomata se intrometeu “indevidamente” na política interna brasileira e condenou o que chamou de “manipulação” de um conflito, entre Israel e o grupo palestino Hamas, em que o Itamaraty tem atuado na construção de uma “solução pacífica”. A dirigente ainda classificou como “repugnante” a aliança entre o ex-presidente e o embaixador por envolver a “segurança e a vida de cidadãos brasileiros” na Faixa de Gaza.
“O Brasil não admite que questionem a nossa soberania. Esta é a lição que o embaixador de Israel não entendeu. O tempo da subserviência acabou junto com o mandato de Jair Bolsonaro”, diz trecho do comunicado divulgado pela petista.
1)Mais uma vez o embaixador de Israel no Brasil intrometeu-se indevidamente na política interna de nosso país, num ato público com o inelegível Jair Bolsonaro, realizado em pleno Congresso Nacional.
2)É totalmente condenável a manipulação que fazem de um conflito em que a…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) November 9, 2023
Na última quarta-feira, 8, o ex-presidente participou de um evento na Câmara dos Deputados organizado por parlamentares bolsonaristas, no qual o embaixador israelense estava presente. Na ocasião, foram exibidas imagens do ataque do grupo terrorista Hamas a cidadãos israelenses no início de outubro. De acordo com o advogado e ex-ministro de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, o encontro foi “absolutamente de surpresa” — uma reunião de Bolsonaro com deputados já estava prevista e, ao chegar ao Congresso, o ex-presidente teria sido informado do encontro com Zonshine.
Em menos de 24 horas, esse foi o segundo episódio envolvendo as relações com Israel que despertou a fúria do governo brasileiro. Também na quarta-feira, o gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, informou que a agência de inteligência israelense Mossad cooperou com a Polícia Federal compartilhando informações sobre o grupo radical libanês Hezbollah, que planejava um suposto atentado terrorista no Brasil. Nesta quinta, o ministro da Justiça Flávio Dino desmentiu as declarações e reafirmou que a operação contra atos terroristas no Brasil foi conduzida por autoridades brasileiras. Dino ainda negou que agentes estrangeiros possam interferir em investigações produzidas em território nacional.
‘Obrigado, Bolsonaro’
Após a repercussão de que Bolsonaro havia se encontrado com o embaixador de Israel no Brasil, internautas “agradeceram” ao ex-presidente por uma suposta “ajuda” que a conversa teria tido na liberação de brasileiros em Gaza. Nesta quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores do país, Eli Cohen, afirmou ao chanceler brasileiro, Mauro Vieira, que os brasileiros estarão na próxima lista de estrangeiros autorizados a cruzar a fronteira e poderão deixar a região na sexta.
A frase “Obrigado, Bolsonaro” chegou a ficar entre os assuntos mais comentados do X (antigo Twitter). Como a internet não perdoa, o tema também foi usado para ironizar a atuação polêmica do ex-presidente na pandemia de Covid-19, a alta dos alimentos durante seu governo e seu envolvimento em escândalos de corrupção.