O lucro bilionário do PCC e o plano para asfixiar as finanças da facção
Com alianças internacionais, facção faz do tráfico de droga o pilar de um conglomerado do crime; governo quer mudar legislação para um combate mais efetivo
A diversidade de atividades econômicas e a própria clandestinidade são fatores que dificultam estudiosos de apontar o tamanho do lucro do PCC com a operação criminosa. Um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), publicado em julho deste ano em parceria com o grupo empresarial Esfera, estima que a facção fature 1,3 bilhão de dólares por ano, o que na atual cotação ultrapassa os 7,5 bilhões de reais – confira reportagem da edição de VEJA que está nas bancas sobre como a organização se tornou uma multinacional do crime.
O sociólogo David Marques, coordenador de projetos do FBSP, explica que o PCC passa por um processo de diversificação de atividades, apesar de o comércio de drogas se manter como o negócio mais lucrativo. “O narcotráfico ainda é um grande pilar de sustentação econômica das atividades da facção”, afirmou a VEJA. Marques explica que a organização criminosa se especializou na logística dos entorpecentes e hoje se configura como um dos principais atores globais nesse serviço do submundo.
O Brasil é vizinho da Colômbia, Bolívia e Peru, principais produtores de cocaína, além do Paraguai, de onde o PCC exporta maconha. “Eles têm acordos para adquirir essas drogas diretamente nos países produtores, sem intermediários, e fazer a distribuição tanto no mercado brasileiro, quanto em direção à Europa, à Ásia e à África”, afirma Marques.
Investigações do Ministério Público de São Paulo e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) identificaram ao menos dois grandes parceiros do PCC para vender entorpecentes no mercado europeu: o grupo mafioso sérvio Šarić, que explora a rota Brasil – Cabo Verde, um interposto para o tráfico de drogas na Europa; e a máfia italiana ‘Ndrangheta, associada ao grupo criminoso brasileiro na venda das drogas que saem de Santos (SP), Salvador (BA), Itajaí (SC) e Rio de Janeiro.
O plano para asfixiar as finanças do PCC
O Ministério da Justiça e Segurança Pública criou, em outubro, um grupo de trabalho para o combate ao crime organizado. Os especialistas estão subdivididos em áreas de atuação (governança, políticas cautelares, direito material, direito processual, entre outros) e farão a terceira reunião coletiva na próxima semana. A ideia é que haja um quarto encontro ainda neste ano e, em janeiro, se elabore um projeto de lei antimáfia.
Para o secretário nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubbo, além de novos tipos penais é preciso repensar os métodos de combate às organizações criminosas. A proposta é aumentar a celeridade de medidas cautelares, abreviar o procedimento de apropriação ou expropriação de bens das facções, bloquear contas e tomar iniciativas que ataquem o financiamento dos crimes. Sarrubbo acredita que esses movimentos vão induzir os criminosos ao erro, brechas que o Estado precisa para combatê-los e puni-los.
“Tem que ser muito rápido, a gente tem que trabalhar muitas vezes com algumas presunções. No sentido de que se a aquisição de um determinado bem não foi justificado e está inserido num contexto de máfia, a gente apreende e depois prova”, defende o secretário em entrevista a VEJA.
No diagnóstico de Sarrubbo, o enfrentamento efetivo às facções passa por um discurso de aumento de penalidade, sem a garantia de que as penas sejam efetivamente cumpridas, e com incursões ostensivas desordenadas a favelas enquanto os líderes “continuam intocáveis nas suas coberturas, nos bairros nobres, e não estão sendo incomodados”.