O gesto antipetista de Marta Suplicy que mais causou mágoas ao PT
Prestes a selar enlace com Guilherme Boulos para prefeitura de São Paulo, ex-parlamentar tem histórico de controvérsias com o partido

A um passo de se tornar pré-candidata à prefeitura de São Paulo na chapa de Guilherme Boulos (PSOL), Marta Suplicy não é consenso entre todas as alas do Partido dos Trabalhadores. Os movimentos que têm garantido o resgate do prestígio da ex-prefeita — de volta à legenda em uma aliança patrocinada por ninguém menos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva — reavivaram uma mágoa profunda entre petistas que remonta a um passado não tão distante.
O apoio de Marta ao impeachment de Dilma Rousseff (PT), iniciado em 2015, é tido como a mais “imperdoável” das traições pelo setor mais ideológico da legenda — que, seguindo a cartilha defendida inclusive por Lula até os dias atuais, insiste em classificar o episódio como “golpe”. À época, a então senadora endossou a legalidade do procedimento, e disse estar convencida de que havia “indícios mais do que suficientes dos crimes de responsabilidade” cometidos por Dilma.
A ausência de sinais que demonstrem “arrependimento” de Marta, nem ao menos no discurso, também irritam essa parcela petista. Em entrevista à Folha de S.Paulo em janeiro de 2023, Marta voltou a defender o posicionamento. “Votei pelo impeachment e achei que era coerente com o que eu achava que era o certo naquele momento”, afirmou. “Não achei que foi golpe, de jeito nenhum. Passou por todos os canais legais, foi absolutamente dentro da Constituição”, concluiu.
A insatisfação soma-se à maneira pela qual Marta deixou o PT, pouco antes do impeachment: disparando acusações de que havia corrupção sistemática no partido — outro erro tido como imperdoável pelos petistas mais arraigados, que classificam a Lava-Jato como uma grande chicana jurídica. Em abril daquele ano, no auge da Operação Lava-Jato, ela desfiliou-se da legenda, na qual ficara por 33 anos, por meio de uma carta em que responsabilizava a sigla por um dos “maiores escândalos da nação brasileira”, o chamado petrolão. No documento, também afirmava que os princípios do partido nunca haviam sido “tão renegados pela própria agremiação”.
Mágoa antiga
Apesar de o estopim ter se dado em meados de 2015, o estremecimento das relações de Marta com o PT teve início quando da primeira campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República. Embora nunca tenha admitido publicamente, aliados afirmam que a então petista sonhava com a indicação para a vaga ao Planalto, mas foi preterida por Lula pela então ministra da Casa Civil. Um dos motivos apontados para a escolha, à época, foi a derrota de Marta por Gilberto Kassab (PSD) na disputa à prefeitura de São Paulo em 2008 — uma vitória na maior cidade do país cacifaria quase que “automaticamente” o nome da ex-parlamentar para a corrida presidencial, mas a derrota a enfraqueceu politicamente.
Sacramentada a escolha de Dilma, Marta seguiu para a disputa ao Senado, na qual arrematou uma das duas cadeiras reservadas ao estado de São Paulo — a outra ficou com Aloysio Nunes (PSDB). Como senadora, em 2011, disse querer ser o “braço direito” de Dilma na condução, por exemplo, da reforma tributária, e tornou-se primeira vice-presidente do Senado.
No mesmo ano, Marta demonstrou querer candidatar-se novamente à prefeitura de São Paulo nas eleições de 2012. Lula, no entanto, defendia o então ministro da Educação, Fernando Haddad — sem apoio, Marta desistiu de disputar as prévias do partido e retirou sua pré-candidatura. Como “retribuição” pelo ato de abdicação, Marta foi nomeada por Dilma, em 2012, para o Ministério da Cultura.
A “recompensa”, no entanto, não foi suficiente para evitar outra dissidência de Marta da cúpula do partido. Antes das eleições de 2014, que culminariam na reeleição de Dilma, a então ministra encampou o “Volta, Lula”, movimento que pedia por uma candidatura do ex-presidente em vez da então mandatária. A empreitada não foi adiante e, como resultado, escancarou o atrito entre ambas.
Em novembro de 2014, após a confirmação da vitória de Dilma, Marta pediu demissão do Ministério da Cultura com uma carta na qual criticava a equipe econômica do governo.
Para a ala mais pragmática do PT, tudo isso são águas passadas.