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Por José Benedito da Silva Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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O desafio da esquerda para ganhar votos de beneficiários do Bolsa Família

Vínculo ideológico do eleitor foi diminuindo à medida em que os programas sociais viraram política de estado

Por Ramiro Brites Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 out 2024, 13h36 - Publicado em 12 out 2024, 13h06

O avanço da direita nas urnas nesta semana também mostrou fragilidades da esquerda em setores da sociedade que já foram mais vinculados a esse espectro ideológico. Um exemplo é nas eleições da cidade de São Paulo, onde Pablo Marçal (PRTB) e Ricardo Nunes (MDB) fizeram mais votos do que Guilherme Boulos (PSOL) nas periferias das zonas leste e sul, tradicionais redutos petistas – leia matéria da edição de VEJA desta semana.

Coligado com o PT, o psolista também não conseguiu conquistar os beneficiários do Bolsa Família, programa criado por Lula em seu primeiro mandato no Planalto. Pesquisa AtlasIntel feita duas semanas antes da votação mostrou que Nunes tinha oito pontos percentuais a mais que PSOL entre beneficiários do programa (30% a 22%).

Para o pesquisador Robert Vidigal, do Center for Global Democracy da Universidade de Vanderbilt, o antigo vínculo que os partidos de esquerda conseguiram estabelecer com os programas sociais foram se diluindo à medida em que algumas dessas iniciativas se tornaram políticas de Estado e não de governos específicos.

“Mesmo o Lula tentando reverter e mudando o nome do Auxilio Brasil (dado pelo governo Jair Bolsonaro) de volta para Bolsa Família, é uma política pública que os dois lados do espectro ideológico já promoveram e o eleitorado viu isso. O eleitor continuou recebendo o benefício quando Bolsonaro estava no poder”, diz o especialista, que é um dos organizadores da coletânea Para Entender a Nova Direita Brasileira.

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Parte dessa desvinculação do Bolsa Família ao petismo se deve apenas ao passar do tempo. Como o programa foi criado em 2003, muitos eleitores já nasceram com a política em andamento. Segundo Vidigal, a direita pós-redemocratização tinha como principal discurso o liberalismo econômico, mas soube remodelar a retórica para pautas que dialogassem melhor com os anseios dos eleitores.

“Os candidatos de direita perceberam que esse tipo de pauta econômica não ganhava eleição e partiram para novas estratégias eleitorais”, observou o pesquisador. “Um discurso que busca articular uma visão de mundo conservadora e politizar questões anteriormente adormecidas para o eleitorado pós-redemocratização. O brasileiro trocou a direita liberal pela direita autoritária”, afirma.

Mesmo que a sociedade demonstre uma relação diferente com programas de transferência de renda, marqueteiros ainda acreditam que a memória de benefícios sociais ainda influencia a mentalidade dos eleitores. Um exemplo é a campanha de André Fernandes (PL) em Fortaleza. A candidatura propõe uma guinada à direita na capital do Ceará após sucessivos governos de esquerda e centro-esquerda e tem como um dos grandes desafios garantir ao eleitorado que não perderá os benefícios já conquistados.

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