O áudio da discórdia que dividiu a cúpula do PCC neste ano
Fala de ‘Marcola’ que chama o ex-número dois da facção, ‘Tiriça’, de ‘psicopata’ foi usada para ampliar pena de comparsa e abriu um racha entre os líderes
Em 2022, durante um atendimento médico na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, Marco Willians Herbas Camacho, o “Marcola”, principal líder do PCC, disse que Roberto Soriano, o “Tiriça”, era um dos integrantes mais violentos da facção. Trata-se de um “psicopata”, resumiu o número um da mais poderosa organização criminosa do país. O áudio foi usado no julgamento de “Tiriça”, que acabou condenado a 31 anos de prisão em 2023 por ter mandado matar uma psicóloga que atendia na Penitenciária Federal de Catanduvas, no oeste do Paraná. A conversa de “Marcola” com os agentes penitenciários foi considerada uma delação por parte dos integrantes do Primeiro Comando da Capital e provocou um racha na cúpula da organização criminosa, o que não se via há duas décadas — edição de VEJA que está nas bancas mostra como facção se tornou uma multinacional do crime.
“Tiriça” era visto como o “zero dois” do PCC e tentou formar uma facção paralela: o Primeiro Comando Puro. O movimento é acompanhado por investigadores, que não consideram grandes as chances dessa nova organização prosperar. Ele se juntou a outros líderes da facção, Abel Pacheco de Andrade, o “Vida Loka”, e Wanderson Nilton de Paula Lima, “o Andinho” para declarar guerra contra “Marcola”. O conflito entre os chefes aumentou a violência nas ruas, que começaram a disputar os pontos de venda de droga no varejo, conhecido como “biqueiras” ou “bocas de fumo”. No momento, a fratura segue exposta, mas a guerra está em uma espécie de trégua.
Todos os principais envolvidos no conflito estavam presos na Penitenciária Federal em Brasília, mas, após o racha, “Tiriça”, Abel “Vida Loka” e “Andinho” foram transferidos, em 15 de outubro deste ano, para a Penitenciária Federal em Mossoró, no Rio Grande do Norte. A separação dos líderes da facção divide opiniões entre estudiosos de Segurança Pública.
Para o sociólogo David Marques, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma das principais diferenças das maiores facções do país, PCC e Comando Vermelho, em relação às máfias italianas, por exemplo, é a organização em rede, de modo que a organização não fica “acéfala” quando se isolam os líderes.
“O próprio sistema prisional federal foi criado com o objetivo de isolar essas lideranças. Alguns críticos dizem que ao mobilizar esses faccionados para outros locais acaba intensificando a presença dessas facções em novos territórios”, observa.