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Não vou tratar de bolsonarismo na campanha, diz Maria do Rosário

Deputada do PT e pré-candidata à prefeitura de Porto Alegre foca em críticas à gestão de Sebastião Melo e ações do governo federal

Por Victoria Bechara Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 jun 2024, 13h09 - Publicado em 24 jun 2024, 09h23

Pré-candidata à prefeitura de Porto Alegre, a deputada Maria do Rosário (PT) afirma que não quer tratar de bolsonarismo em seu discurso de campanha. Seu principal adversário, o prefeito Sebastião Melo (MDB), deve ter o apoio do PL de Jair Bolsonaro na disputa pela reeleição.

Como mostrou a reportagem de VEJA, apesar do caráter de polarização, a tragédia causada pelas chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul deve ser o principal tema da campanha eleitoral na capital gaúcha. Melo enfrenta críticas por sua atuação diante dos alagamentos, sobretudo em relação às falhas nas comportas e nos sistemas de bombas. Embora admita alguns erros na gestão dos equipamentos de proteção, o prefeito passou a jogar a responsabilidade pelo atendimento às vítimas e pela recuperação da cidade para a União e subiu o tom da cobrança ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A reação do prefeito embute um raciocínio eleitoral: é um antídoto para a quase certa estratégia de sua principal adversária de tentar capitalizar as ações federais no estado e na cidade. Maria do Rosário tem divulgado as medidas adotadas pelo governo Lula e feito críticas à gestão municipal e à suposta falta de preparo de Melo para lidar com mudanças climáticas. Também visitou abrigos e publicou nas redes sociais vídeos nos quais moradores desabafam sobre a situação crítica da capital. “Tem sido uma prática do Sebastião Melo transferir a responsabilidade, mas o prefeito da cidade é ele, não o presidente Lula”, afirma. Confira a seguir os principais trechos da entrevista concedida à VEJA:

A tragédia climática que atingiu o estado deve ser pauta da campanha. Na sua avaliação, como isso impacta o cenário eleitoral em Porto Alegre? Nós já apontávamos a existência de uma precariedade de gestão em Porto Alegre, um modelo inadequado às necessidades da população em várias áreas, como transporte e assistência. Tristemente, na hora em que foi mais necessário ter uma gestão articulada e organizada, a cidade não contou com isso. Seja na prevenção, porque não foi feita a manutenção do sistema, seja no atendimento posterior. Nós ainda estamos com muito lixo nas ruas. Depois de quase dois meses, a cidade ainda não recuperou a possibilidade de salubridade, de saúde básica. Não temos garantia de que, caso uma chuva venha, uma nova cheia do Guaíba não vai nos atingir da mesma forma. Há uma leniência e uma dificuldade de gestão que é muito grave. Eu penso que há um impacto, sim, no processo eleitoral, porque as pessoas percebem mais nesse momento. A população viu com mais nitidez a ausência de gestão. Sem dúvida, quando a percepção de que não há um bom atendimento aumenta, a vontade de mudar fica maior. 

O prefeito Sebastião Melo subiu o tom contra Lula e tem jogado a responsabilidade pelas obras de reconstrução no colo do governo federal. Como a senhora pretende equilibrar as críticas ao prefeito sem que isso respingue no presidente, que é seu aliado? Tem sido uma prática do atual prefeito sempre transferir a responsabilidade, mas o prefeito da cidade é ele, não o presidente Lula. O governo federal está aportando recursos nas mais diversas áreas. Não poderia ser diferente. Eu trabalhei desde o primeiro dia pela presença federal no atendimento à população e acompanhei a situação da população nos abrigos, nas regiões a serem desocupadas, nas questões de saúde e no atendimento das crianças. O governo federal tem o poder e está colocando recursos, mas, para que a verba seja bem utilizada, precisa da gestão municipal. Todas as cidades tiveram a abertura, por exemplo, para cadastros da população atingida. É muito triste ver que a cidade de Porto Alegre demorou mais na organização de cadastros. Assim, demorou mais para chegar o recurso federal às famílias, assim como a parte de atendimento das pessoas, dos pequenos e médios empresários também.

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O prefeito deve ter o apoio de Bolsonaro, já que o PL vai ocupar a vaga de vice na chapa. Teme que a campanha fique polarizada entre o PT e o bolsonarismo, como foi na eleição nacional? Eu não vou tratar de bolsonarismo no meu discurso, porque o meu objetivo é falar sobre a cidade. A cidade está muito destruída. O bolsonarismo só serviu para dividir o país. Acho que precisamos virar essa página e construir uma união em um momento como esse. O atual prefeito reforça a sua presença mais extremista. Bom, é uma opção que ele tem. A minha opção é pela democracia e, portanto, contrária a esse segmento. Eu vou apresentar propostas ambientais, de proteção intensiva da cidade para recuperar e ampliar esse sistema de proteção a cheias. Também estou produzindo propostas na área da educação, ciência, tecnologia e saúde pública. A próxima gestão não vai ser de quatro anos. Ela vai dar início a um período de planejamento até, no mínimo, 2035, porque serão os primeiros passos da reconstrução. A gestão será de quatro anos, mas o projeto tem que ser pelo menos decenal ou até mais do que isso. 

Como estão as conversas com outros partidos? Eu não estou buscando um mero apoio, estou buscando uma frente para governar. Isso vai ser muito importante para a reconstrução da cidade. Porto Alegre vai estar diante dos olhos do Brasil e do mundo, uma responsabilidade muito grande. Nós temos uma frente política com PCdoB, PV, PSOL e Rede. Estamos dialogando com o PSB de uma forma muito produtiva. Nós temos uma chapa consolidada (com o PSOL), mas isso não barra outros caminhos que a gente possa trilhar juntos no primeiro ou no segundo turno.

O apoio do governador Eduardo Leite na eleição ainda está em aberto. Acha que essa decisão pode alterar muito o cenário? Não sei exatamente como ele vai se posicionar, mas vejo que o governador não tem uma identificação com esse campo de extrema direita. Mas em outros momentos, por exemplo, na eleição do presidente Lula, ele preferiu ficar neutro. Então eu me pergunto se ele vai buscar um caminho similar nesse momento também. Eu, pessoalmente, gosto bastante dele, independente dos projetos políticos serem diferenciados. 

Quais as suas propostas para prevenir eventuais tragédias causadas pelas mudanças climáticas?  Pretendo configurar o DEP, o Departamento de Esgotos Fluviais da prefeitura, e organizar um trabalho integrado com diferentes áreas. O sistema de Porto Alegre é robusto, mas é necessário recuperar as bombas e as comportas internas do Muro da Mauá. Por outro lado, há áreas que não estão devidamente protegidas – a região do Sarandi, por exemplo, além do Esporte Clube Internacional. Essas regiões precisarão ter planos específicos também. Deve existir um trabalho integrado entre as cidades. Vou propor aos prefeitos e prefeitas da região metropolitana um consórcio da Bacia do Guaíba. Eu quero criar um comitê integrado para gerir esse sistema de proteção e nos adiantar nas situações de risco. Nós também podemos ter um trabalho integrado no que diz respeito a resíduos, atendimento da situação de resíduos orgânicos e de reciclagem. 

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