Mortes pela PM: pressão sobre Derrite agora vem do próprio governo de SP
Conselho ligado à Secretaria de Justiça e Cidadania acusa o titular da Segurança Pública de improbidade por não fornecer dados sobre ações no litoral

O secretário estadual de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, foi alvo de uma representação ao Ministério Público nesta segunda, 25, por suposto ato de improbidade administrativa em razão da eventual falta de transparência na prestação de informações relativas às operações policiais conduzidas na Baixada Santista, no litoral do estado, desde o ano passado.
A iniciativa é do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), órgão do próprio governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), ligado à Secretaria de Justiça e Cidadania, que afirma nunca ter recebido uma resposta do secretário sobre pedidos relativos à ação policial. Já são 48 mortos desde janeiro nas cidades da região, com destaque para Santos, Guarujá e São Vicente.
Presidente do órgão, Dimitri Salles disse esperar que um processo por improbidade seja aberto pelo MP-SP e que Derrite deixe o cargo. “Essa é uma gestão fascista, que não fornece informações para os órgãos de controle e que patrocina o discurso da violência”, declarou a centenas de moradores da região que lotaram na tarde desta segunda o salão nobre da Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco, na capital paulista. Somadas as mortes resultantes da Operação Escudo, ocorrida ano passado, o número chega a 79.
Proteger a população
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que as polícias de São Paulo atuam para proteger a população e combater o crime organizado, que tem forte presença na Baixada Santista. “As mortes registradas decorreram de confrontos com criminosos, que têm reagido de forma violenta ao trabalho policial. Em todos os casos foram apreendidas as armas usadas pelos suspeitos. Além disso, a Operação Verão já resultou na prisão de 1.010 criminosos, incluindo líderes de facções criminosas, e na apreensão de 948 quilos de drogas, além de 111 armas ilegais, como fuzis de uso restrito”, informou a pasta, negando ainda que esteja se negando a prestar informações sobre as ações realizadas.
“A Secretaria da Segurança Pública tem respondido a todos os questionamentos encaminhados pelos órgãos de controle e permanece à disposição para qualquer informação. A pasta teve conhecimento informal da representação do Condepe e irá responder aos questionamentos assim que acionada pelo Ministério Público”, informou.
Ato na USP
Com a presença do ouvidor das polícias, Cláudio Silva, o evento na segunda-feira reuniu na Faculdade de Direito parte dos familiares dos mortos. Vestindo camisetas com imagens de vítimas da PM e segurando faixas pedindo paz, o grupo exigia o fim da operação e a abertura de inquéritos para investigar as mortes. “Chega de chacina, polícia assassina”, cantavam os presentes.
Durante o evento, organizações da sociedade civil, como o Fórum Nacional da Segurança Pública e o Instituto Sou da Paz, divulgaram relatos de abusos policiais. Em comum, denúncias de supostas execuções seguidas de alterações nas cenas dos crimes e de ameaças contra parentes que insistirem em apontar falhas na operação.
A postura do governador Tarcísio de Freitas que, no início do mês, afirmou “não estar nem aí” para as denúncias de abuso policial na região, também foi amplamente criticada por representantes das entidades presentes. Apesar das críticas, no entanto, a ação segue sem data para terminar.