Para reverter aquela percepção muito ruim do mercado quando surgiu como a estrela do Ministério da Fazenda, bem que Fernando Haddad poderia lembrar a antiga piada sobre a reação de um tenor que é vaiado e, sem conseguir cantar, grita ao público: “Estão me achando ruim? Então esperem o barítono!”. Passados os primeiros meses do governo, a verdade é que o “tenor” Haddad já não leva tantas vaias. Além da habilidade política que vem demonstrando, o mercado percebeu que, ruim com Haddad, pior sem ele. Lula, o chefe do ministro, ainda não saiu do palanque ao falar de economia. E surgiram “barítonos” como Aloizio Mercadante, que montou uma espécie de Ministério da Fazenda paralelo, aumentando o volume de apostas nos bastidores de que sonha ocupar o lugar de Haddad. Se o mercado não gosta (ou gostava) muito de Haddad, Mercadante é visto como uma enorme assombração.
A tolerância com o “tenor” Haddad pode ser medida pelos números da pesquisa Genial Quaest que começaram a circular hoje. Feito com executivos e operadores do mercado financeiro, o levantamento quantificou a desconfiança da turma com o atual governo, avaliado negativamente por 90% dos entrevistados. Em meio a esse cenário de pessimismo exacerbado, Haddad até que foi poupado. Pouco mais da metade do mercado avaliou como regular a atuação até aqui do ministro. No quesito confiança transmitida por algumas lideranças políticas, Haddad se sai melhor que o próprio Lula (ganha também de Mercadante e de Gleisi Hoffmann, a presidente do PT, que praticamente não passa um dia sem dar pitacos errados sobre economia, com predileção especial por críticas descabidas ao BC).
Claro que essa porção de boa vontade com Haddad pode se desmanchar em breve, dependendo de como o mercado irá avaliar suas propostas mais importantes, a começar pela nova âncora fiscal, prometida para ser anunciada nos próximos dias. Aí, se o tenor desafinar, vai levar todas as vaias possíveis, independentemente da qualidade dos “barítonos” que compõem o atual elenco do governo.